Curso de História da Baixada



Caro amigo(a)


O IPAHB (Instituto de Pesquisas e Análises Históricas e de Ciências Sociais da Baixada Fluminense - www.ipahb.com.br ) tem o prazer de anunciar mais uma temporada do Curso de História da Baixada, que se inicia no dia 12 de setembro, já em sua nova sede. O curso é destinado a professores, comunidade acadêmica e a todos que desejam conhecer mais a fundo a história da região que foi a rota do Império para as riquezas do Brasil.


As inscrições para a nova turma estão abertas e as aulas acontecem aos sábados, entre 8h30 e 12h30, com carga total de 60 horas/aula. O custo, por aluno, será de R$ 240,00, que pode ser pago em três parcelas e inclui material didático e excursões aos locais históricos da região, com acompanhamento de professores e guias.


A nova sede do IPAHB fica na rua Professora Alayd de Souza Belém, nº 8, centro de Nilópolis (ao lado da Praça Paulo de Frontin e na esquina com Roberto Silveira).


Inscrições e / ou maiores informações podem ser obtidas pelo telefone
(21) 2691-1135 ou 2755-5602


Um grande abraço,

Professor Gênesis Torres
Presidente de IPAHB





Magé: desrespeito ao Patrimônio Histórico





Antonio Carlos Meritello Machado 8 de julho de 2009 00:12
Para: amigosdopatrimonio@gmail.com


A prefeita Núbia Cozzolino não derespeita sómente os direitos de funcionários estatutários, demitindo-os ilegamente, mas o Patrimônio Histórico tombado da Primeira Ferrovia do Brasil de Guia de Pacobaíba à Inhomirim, mandando asfaltar no centro de Piabetá o trecho da linha ferroviária, no momento que o IPHAN Instituto do Patrimônio Histórico Nacional-S 6 contrata a VALEC para elaborar um Projeto de Revitalização da Estrada de Ferro Mauá e o Prefeito de Petrópolis investe pela reativação do trecho entre seu município e Mágé, por entender que a volta do trem é incrementar o turismo gerando mais empregos e transporte ferroviária mais rpapido Petrópolis- Barão de Mauá, com percurso previsto de 1 hora e 40 minutos. Para protestar contra mais este ato arbitrário nos da AFPF Associação Fluminense de Preservação Ferroviária-AFP/Magé conclamos a todos participarem de manisfestação no centro de Piabetá, nesta quarta feira, 13 horas, para a qual contamos com divulgação deste importante veículo de comunicação.

Luiz Otávio (Diretor Executivo), Carlos Meritello (Administrativo), Edyr Inácio Silva (Tesoureiro), José Miguel Silva (Promoções) e Sonia Nascimento pela Comissão de Revitalização da Primeira Estrada de Ferro e AMOGP Associação de Moradores de Guia de Pacobaíba.


Telefones para contatos: 2259 9084 (Luiz Otávio)- 9498 7753/9348/7343(Meritello)
9326 2001(Sonia) - 9292 0192 (Miguel) -94053111 (Edir).




Estação de Guia de Pacobaíba-www.albertomarques.blogspot.com



PREFEITURA DE MAGÉ ASFALTA LEITO DA ESTRADA DE FERRO


Num aberto desafio ao IPHAN - Instituto do PatrimônioHistórico e Artistico Nacional – que decidira revitalizar o histórico trecho da antiga Estrada de Ferro Mauá, que ligava Guia de Pacobaíba à Vila Inhomirim, a prefeita Núbia Cozzolino, de Magé, decidiu determinar o asfaltamento de um trecho de cerca de 200 metros do leito da antiga ferrovia, no centro do distrito de Piabetá. A ferrovia foi construída por Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá, e inaugurada pelo Imperador, D. Pedro II. Essa foi a primeira estrada de ferro do País e a Prefeitura de Petrópolis está interessada em restaurar a ligação ferroviária com a cidade do Rio de Janeiro, visando reforçar o turismo na região, gerando empregos e renda para a população que mora ao longo da ferrovia. Por conta disso, o IPHAN contratou a VALEC para fazer um estudo sobre a retomada do transporte ferroviário entre a cidade do Rio de Janeiro e Petrópolis.


Por conta da ordem absurda da prefeita mageense, a Associação Fluminense de Preservação Ferroviária, por intermédio do jornalista Carlos Meritello, e engenheiro Luiz Otavio fizeram decidiram protocolar uma denúncia no Ministério Público Estadual contra a Prefeita Núbia Cozzolino, conforme protocolo 73495. A denúncia foi formalizada nesta quarta-feria,a depois de um em 8 de julho de 2009.


Fonte:
www.albertomarques.blogspot.com/


• Na festa de lançamento do Nº 8 da revista “Pilares da História”, no Instituto Histórico da Câmara de Duque de Caxias, o jornalista Antonio Carlos Meritello, que luta pela restauração da Estrada de Ferro que ligava Guia de Pacobaíba, atual Praia de Mauá, em Magé a Petrópolis, anunciou que uma grande empresa, com larga experiência em transporte ferroviário, manifestou interesse em patrocinar a restauração da primeira ferrovia do País, inaugurada há 154 anos, por D. Pedro II.

• Segundo Meritello, a idéia básica é utilizar a antiga ferrovia em eco-turismo, além de facilitar o transporte de passageiros entre o Rio e a Região Serrana, o que reduziria o número de coletivos na BR-040 e na Av. Brasil.

• A exemplo do que foi feito em Tiradentes (MG), será possível utilizar a antiga estrada de ferro, construída pelo Barão de Mauá, como forma de exploração e conservação da Mata Atlântica, com geração de renda para as famílias que moram ao longo da antiga ferrovia, além de incentivar o turismo ferroviário, muito utilizado em outros países.

• Por falar em Meritello, o jornal por ele fundado, o “Bate Papo”, que circula entre a Barra da Tijuca e Magé, publicou em sua última edição o comentário do nosso blog sobre as comemorações do “Dia da Baixada Fluminense”, no último dia 30. Valeu, parceiro!


vinicius claro 9 de julho de 2009 08:00
Para: amigosdopatrimonio@gmail.com


Prezados senhores.


Embora tenha recebido a notícia tarde para me agendar ao manifesto em favor da estação ferroviária de Pacobaíba, onde estive e admirei o local com certo pesar (estava se criando nos arredores um projeto de favela a revelia do patrimônio histórico), quero me solidarizar plenamente ao movimento e gostaria de estar informado sobre os acontecimentos e eventos, reuniões para que eu possa dar a minha contriubuição na preservação ferroviária.
Atenciosamente,
Prof. Vinicius Claro
ferromodelista



amigosdopatrimonio@gmail.com 13 de julho de 2009 15:28
Para: viniciusoclaro@gmail.com


Prezado professor Vinícius.


Fico muito grato pela sua manisfestação e solidariedade em favor da estação ferroviária de Guia de Pacobaíba e do antigo leito ferroviário da outrora E. F. Mauá, inaugurada em 1854 pelo então empresário Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá.


A notícia foi-me passada pelo amigo Meritello, que faz parte da AFPF, juntamente com o Luiz Octávio, abnegado defensor das estradas de ferro no Rio de Janeiro. Também não pude comparecer, devido a compromissos assumidos anteriormente ao evento. Vou fazer o possível para acompanhar os acontecimentos, inclusive encaminhei denúncia ao MPRJ, conforme fizera anteriormente, quando o Poder Público municipal incentivara a ocupação irregular do antigo leito ferroviário em Guia de Pacobaíba. O mesmo farei ao Ministério Público Federal. Com a força da lei e o exercício da cidadania poderemos impedir de vez a ação inconsequente e autoritária do Poder Público de Magé.


Por favor, caso queira, deixe seus telefones para contato ou entre em contato comigo (meus telefones estão abaixo!). A propósito, você é de Magé, da Baixada Fluminense ou do Rio?


Cordialmente,

C L A R I N D O
(21) 3769-4221 / 9765-6038
AMIGOS DO PATRIMÔNIO CULTURAL FLUMINENSE
amigosdopatrimonio@gmail.com


Estrada de Ferro Mauá


Carlos Ferreira (carlosferreirajf@gmail.com)



POLÍCIA FEDERAL EMBARGA O ASFALTAMENTO DE FERROVIA

Depois das manifestações de entidades que defendem o patrimônio histórico e cultural, o Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional - IPHAN - solicitou a Polícia Federal que intimasse a Prefeita de Magé, Núbia Cozzolino, a suspender as obras de asfaltamento do leito da antiga Estrada de Ferro Mauá. A interdição foi feita na segunda-feira (27). Essa ferrovia, construÍda por Irineu Evangelista de Souza- o Barão de Mauá, foi inaugurada pelo Imperador Pedro II em 30 de abril de 1854 ligando Guia de Pacobaíba à Petrópolis. Tombada pelo IPHAN (Registro nº 506-T-54), não pode sofrer nenhum dano conforme artigo 23 item 4 da Constituição Federal, mas a Prefeitura de Magé iniciou uma obra sem consulta ao órgão federal e sem colocação de placa da obra, conforme exigido pelo Tribunal de Contas do Estado. O engenheiro Luiz Octavio de Oliveira diretor da AFPF - Associação Fluminense de Preservação Ferroviária – espera, agora, que a Prefeitura de Magé desenterre a linha, deixando livre para circulação do trem conforme o projeto em andamento no IPHAN.
Fonte:
www.albertomarques.blogspot.com



IPHAN EMBARGA ASFALTAMENTO DE FERROVIA EM MAGÉ


alberto marques dias


POLÍCIA FEDERAL EMBARGA O ASFALTAMENTO DE FERROVIA



Depois das manifestações de entidades que defendem o patrimônio histórico e cultural, o Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional - IPHAN - solicitou a Polícia Federal que intimasse a Prefeita de Magé , Núbia Cozzolino, a suspender as obras de asfaltamento do leito da antiga Estrada de Ferro Mauá. A interdição foi feita na segunda-feira (27). Essa ferrovia, construÍda por Irineu Evangelista de Souza- o Barão de Mauá, foi inaugurada pelo Imperador Pedro II em 30 de abril de 1854 ligando Guia de Pacobaíba à Petrópolis. Tombada pelo IPHAN (Registro nº 506-T-54), não pode sofrer nenhum dano conforme artigo 23 item 4 da Constituição Federal, mas a Prefeitura de Magé iniciou uma obra sem consulta ao órgão federal e sem colocação de placa da obra, conforme exigido pelo Tribunal de Contas do Estado. O engenheiro Luiz Octavio de Oliveira diretor da AFPF - Associação Fluminense de Preservação Ferroviária – espera, agora, que a Prefeitura de Magé desenterre a linha, deixando livre para circulação do trem conforme o projeto em andamento no IPHAN.



postado por ALBERTO MARQUES às 7/28/2009 09:06:00 PM 2 Comentários

Rio de Janeiro

P E S Q U I S A



Pesquisa da professora Vilma Isabel Alves de Oliveira
Ela deseja saber as seguintes informações:
1. Rios do Centro/Zona Norte e Zona Sul que foram canalizados (fotos do período anterior à canalização - rios Carioca, Comprido, Maracanã, ....);
2. Fotos/documentos do período joanino a respeito das iniciativas do reflorestamento ou iniciativas de preservação da Floresta da Tijuca;
3. Fotografias de escolas públicas do período imperial.
Agradecemos às colaborações, que posteriormente serão repassadas à ilustre professora com os devidos créditos dos colaboradores.
Cordialmente,
Paulo Clarindo
AMIGOS DO PATRIMÔNIO CULTURAL FLUMINENSE
Telefones: (21) 3769-4221 / 9765-6038 / 2224-6184
Fazendas Fluminenses


De acordo com as observações feitas pelo colaborador Pedro Ernesto Fonseca Brum, listo, a seguir, algumas fazendas que não constam no Inventário das Fazendas de Café do Vale do Paraíba Fluminense feito pelo INEPAC em parceria com o Instituto Cultural Cidade Viva.



MIGUEL PEREIRA

1. Fazenda Igapira;

2. Fazenda Capitão Marcos da Costa;

3. Fazenda Pão de Ouro.



PATY DO ALFERES

1. Fazenda Monte Alegre.



BARRA DO PIRAÍ

1. Fazenda ainda não identificada, localizada na estrada para Conservatória, possivelmente localizada no distrito de Ipiabas.



VALENÇA

1. Fazenda Paraíso.



RIO DAS FLORES

1. Fazenda Paraíso.



VASSOURAS

1. Fazenda Galo Vermelho;

2. Fazenda São Fernando;

3. Fazenda Mulungu Vermelho.



Caso alguém mais queira colaborar, será muito bem-vindo. As informações aqui divulgadas serão repassadas ao Instituto Estadual do Patrimônio Cultural -INEPAC (www.inepac.rj.gov.br) e ao Instituto Cultural Cidade Viva (www.institutocidadeviva.org.br/inventarios/).

Aproveitamos para esclarecer que, segundo soube, por intermédio do ex-presidente do INEPAC, Marcus Monteiro, o trabalho de inventário das fazendas do Vale do Paraíba Fluminense ainda continua.
Agradecemos antecipadamente a todos os colaboradores, em especial, ao amigo Pedro Ernesto Fonseca Brum.


Cordialmente,


Paulo Clarindo
Amigos do Patrimônio Cultural Fluminense
amigosdopatrimonio@gmail.com
Telefones: (21) 3769-4221 / 9765-6038 / 2224-6184
www.amigosdopatrimoniocultural.blogspot.com

J E R I C I N Ó


Prezados amigos.



Apresento-lhe a pesquisa do dr. Frederico Fernandes Pereira, 80 anos (Engenheiro Agrimensor, CREA –147), ele se aprofunda na pesquisa etimológica para nos trazer o significado dos topônimos tupi, debruçando-se especificamente sobre o vocábulo Jericinó, " o nome pelo qual – segundo o autor- os índios Tamoio designavam o maciço montanhoso de origem vulcânica isolado na Baixada Fluminense, conhecido, atualmente como Serra de Madureira, no território de Nova Iguaçu, e Serra do Mendanha, no município do Rio de Janeiro".



Por favor, leia o artigo: www.mitrani.org.br/jericino.doc e divulgue.



Muito grato,



Antonio Lacerda de Meneses
Arquivo da Cúria Diocesana de Nova Iguaçu - RJ



JERICINÓ, um “fóssil glótico”


Frederico Fernandes Pereira


http://www.cibg.rj.gov.br-backoffice-imagens-apagm14/

No título deste estudo etimológico, tomamos de empréstimo a feliz definição cunhada pelo brasileiro sábio do passado, Everardo Adolpho Backeuser (1879-1951), que, em tese apresenta na Vª Reunião Anual da Associação de Geógrafos Brasileiros (1951), ao estabelecer de forma original, as regras e evoluções da TOPONÍMIA, definiu os nomes geográficos de etimologia desconhecida, como “fóssil glótico”. Anteriormente (1901), no entanto, o grande sábio brasileiro, Theodoro Fernandes Sampaio, na introdução de seu livro, “O TUPÍ NA GEOGRAFIA NACIONAL”, que, consideramos ser, a mais importante obra de toda a literatura brasileira, ao comentar sobre as vozes bárbaras do passado brasileiro, desaparecidas, refere-se a “sua lenta e secular fossilização, expressas nos topônimos Tupís que se conservavam, porém, com etimologias desconhecidas.


“Jericinó”, é o nome pelo qual, os índios TAMOIOS, designavam o maciço montanhoso de origem vulcânica isolado na Baixada Fluminense, conhecido, atualmente, como “Serra de Madureira”, no território de Nova Iguaçu e “Serra do Mendanha”, no Município do Rio de Janeiro. Dito vocábulo Tupí, vem sendo grafado por quase todos os autores, historiadores e geógrafos, com a letra “G” (Gericinó), o que não procede, visto que, foi reservado pelos gramáticos da língua Tupí (Anchieta, Figueira, Símpson, Adauto Fernandes, Lemo Barbosa, etc.), para referida consoante (G) o som velar ou gutural, enquanto que, o vocábulo Tupí aqui em estudo, tem som fricativo ou linguopalatal em sua letra inicial (J). À rigor, a letra “J” está ausente do linguajar Tupí, com o som que nós a empregamos, em nosso idioma português. No Tupí, dita letra vale com o “i” semivogal, fazendo um único som com a vogal posterior, como “Jandé” (iandé) nós (Anchieta – Cap. I – Letras).


DA ETIMOLOGIA


A primeira etimologia do vocábulo Tupí “Jericinó”, foi levantada por Theodoro Sampaio (1901), em seu livro “O TUPÍ NA GEOGRAFIA NACIONAL”, acima citado, no “Vocabulário Geográfico Brasileiro” , do mesmo livro, grafado com a letra “G”, nos termos seguintes:


“Gericinó - corruptela de “yarí-cin-ó”, o cacho fechado, é o perianto das flôres do gerivá, a bainha que os protege, a qual, seca, se abre em duas partes côncavas como canoas, o que o vulgo chama CATOLÉ. Nome de uma localidade e serra no Rio de Janeiro.”


Agenor Lopes de Oliveira, em sua obra, “TOPONÍMIA CARIOCA” (sem data), acompanhando a etimologia acima, com acréscimos e variações, assim define o termo TUPÍ aqui estudado:
“Jericinó – (887m) Corruptela de iarí, de airy,“em cima, sobre, no alto”, e cin-o, liso e fechado. Portanto, “morro liso e fechado em cima, no alto”, segundo penso (ver características morfológicas). Alguns autores dizem que significa “cacho liso e fechado, o perianto” (talvez analogia com o conjunto). JARIXINÓ, nas antigas cartas. M. Saint-Adholfe (111, pag. 529, Tomo I) diz: No seu cume existe uma lagoa, do mesmo nome, que abunda de excelente pescado”. (Isto parece justificar a interpretação que dou à etimologia do vocábulo Tupí. Portanto na, parte, que é lisa e fechada, está a citada lagoa). Serve de limite ao Distrito Federal e Estado do Rio. Na vertente para o D.F., pertence à freguesia de Campo Grande. É também chamada Mendanha”.
Outros autores repetem as etimologias acima transcritas, sem maiores acréscimos. O autor destas linhas, igualmente, em artigos no “Correio da Lavoura”, analisando questões outras sobre a “Serra do Jericinó”, reproduziu as mesmas etimologias aqui citadas, sem análise crítica, tendo em vista seus consagrados autores.


Posteriormente, na esteira de nossos constantes e ininterruptos estudos da idiomática Tupí, fomos despertados por algumas raízes vocabulares suspeitadas no vocábulo JERICINÓ e suas variações gráficas, presentes nas várias cartas de sesmarias de terras, concedidas por MARTIM DE SÁ, no princípio do SÉCULO XVII, na “Serra do Jericinó”.


Nos códices 158 e 158-A do Arquivo Nacional, referente às sesmarias concedidas entre 1602 e 1605, o nome de citada serra tem as seguintes grafias: “JORISINOM”, “GOYXINÕM”, “JORIXINONGA”, “JORISINÕNGA”, “JORICINÕGA” E “JEROCINOL”.


De pronto, nos chamou a atenção, a constância da terceira sílaba, que nos despertou para a possível raiz vocabular “CI”, que se traduz por “MÃE”.


Com a primeira suspeita: “ci” = “mãe”, a última sílaba, se revelou associada à primeira, sem necessidade de maiores especulações. A última sílaba, desperta a atenção para a raiz Tupí “nóng”, que se traduz por: “deitado”, como vemos em “O CADERNO DA LÍNGUA”, de FREI ARRONCHES – Vocabulário Português – Tupí, de 1739, no qual recolhemos dita raiz vocabular, com as seguintes variações:


“JENÓNG” - deitar-se – página 111
“AJENÓNG - estar deitado – página 131
“JENÓNG” - jazer – página 186


No “VOCÁBULÁRIO DA LÍNGUA BRASÍLICA”, manuscrito PORTUGUÊS – TUPÍ, embora publicado no Século XVII, é atribuído por alguns estudiosos do TUPÍ, como sendo da autoria do Padre Anchieta, na edição condensada e prefaciada por Plínio Airosa, em 1938 (S.P.), temos na página 177, os seguintes verbetes:


“Deitado estar” -
Anhenonggitupa
“Deitar-se à dormir” -
Anhenonggiepíca


O Conde Ermanno Estradelli no seu “VOCABULÁRIOS PORTUGUÊS – NHEENGATÚ e “NHEENGATÚ – PORTUGUÊS”, edição do I.H.G.B. - Vol. 158 – 1929, registra:


“Deitar” - Ienô (leia-se jenõn) - Página 169
“Estender-se deitado” - Iuienõ (leia-se jujenõn) - Página 203


No “DICIONÁRIO PORTUGUÊZ – BRASILANO e BRASILIANO – PORTUGUÊZ”, de 1975, atribuído por Plínio Ayrosa, como sendo da autoria do Frei Onofre, vemos os seguintes verbetes:


“Deitar alguém” - Mojenóng – Página 75
“Deitar-se” - Jenóng – Página 75
“Deitar-se” - “Jazer” - Jenóng – Página 244
“Curar-se” - “sarar” - Jepoçanóng – Página 244


Confrontando-se as diversas desinências aqui arroladas, com as grafias constantes das sesmarias do Século XVII, acima relacionados, vemos a presença da raiz vocabular “NÓNG”, que tem o significado de “deitado”, observando-se, que, na última das sesmarias, o escrivão, talvez por mais aguda sensibilidade auditiva, acentuou, mais que nas outras, a tonalidade final “Nól”, que muito se aproxima do som da raiz vocabular.


Assim, com as duas raízes vocabulares Tupí identificadas no termo “Jericinó”, aqui estudado, vemos uma referência a “mãe deitada” = CI: mãe e NÓNG: deitada.


Recorrendo a “GRAMÁTICA TUPÍ”, de Adauto D'Alencar Fernandes, 2ª edição, de 1960, que, no juízo do grande gramático João Ribeiro, é “a única que conheço capaz de ensinar e falar e escrever corretamente o idioma Tupí (1925)”, nela, em dita gramática, o autor, ao arrolar os fonemas consoantes ou consonâncias do NHEENGATÚ, que é o Tupí amazônico, refere-se ao fonema “GÊ” ( prefixo) e seu derivado “GERICY”, sendo este traduzido como “CAUSA DE ORIGEM”.

Chegamos, desse modo, ao que faltava para, etimológicamente, compreendermos o vocábulo Tupí “JERICINÓ”. Embora Adauto Fernandes tenha usado a grafia do fonema com a letra gutural “G”, que êle mesmo à página 93, de sua “GRAMÁTICA”, atribui a dita letra “G” o som de “guê”. Desse modo, em atenção a sua lição, nossa grafia será com “J”, com a ressalva do que dissemos sobre tal letra, no início deste estudo.


Ao se traduzir “JERICY”, como “causa de origem”, é porque aí está presente a raiz vocabular “CY” = mãe. O índio em sua cósmovisão, atribuía a existência de mãe para todos os fenômenos naturais, tudo tinha mãe. Associando, então, “JERICY” (causa de origem) com “NÓNG” (deitado) teremos: “A mãe geradora deitada”, como a tradução do vocábulo Tupí “JERICINÓ”.


Buscando a confirmação dessa etimologia, suspeitamos que fosse ela uma expressão metafórica, como nos ensina o mestre antes citado, Everardo A. Backheuser, ao qualificar as origens dos topônimos. Daí, saímos em campo, contornando a “Serra do Jericinó”, observando sua silhueta projetada no firmamento; não precisamos andar muito. Saindo de Nova Iguaçu, pela Rodovia Presidente Dutra, em direção ao Rio de Janeiro, ao chegarmos na ponte sobre o Rio Pavuna, já se nos apresentava a majestosa silhueta da “GRANDE MÃE GERADORA DEITADA”, de costas, de corpo inteiro, do cabelo estendido para trás, aos pés, com as mãos cruzadas ao peito. Porém, de tal ângulo (Rio Pavuna), aparece no pescoço da “GERADORA”, o “pômo-de-Adão (hióide – gogó). Buscando outro ângulo, chegamos ao alto do bairro “Vista Alegre”, onde, no início da colonização portuguesa, foi um dos locais da TABA (aldeia) Tamoia ACARÍ. Dali, dos fundos do bloco de apartamentos “40”, tomamos a fotografia da “MÃE GERADORA DEITADA”, que ilustra o presente estudo, sem a presença do dito hióide (gogó). Dali, da aldeia (Taba) Acarí, como ponto eminente, os índios tinham constante visão da “Serra da mãe geradora”. Igualmente, ao navegarem na Baía de Guanabara, em suas “pirógas”, tinham igual visão da mesma “Serra” que abrigava a mãe responsável pela vida.


No presente estudo etimológico, seguimos a regra de ouro recomendada pelo sábio Theodoro Sampaio, que alerta para a tarefa primeira a resolver, que é a identificação do vocábulo primitivo, para conseguir sua “restauração histórica”, e, que, “exprimem sempre as feições características do objeto denominado, como produto que são de impressões nítidas, reais, vivas, como soem experimentar os póvos infantes, incultos, no máximo convívio com a natureza” (O TUPÍ NA GEOGRAFIA NACIONAL – 1987 – PÁG. 178).


Decorre de nossa conclusão etimológica, que a grafia correta para o vocábulo Tupí aqui definido, vem a ser “JERICYNÓNG”.


DISSECANDO A ETIMOLOGIA


Para maior abono de nossa grafia inicial, do étimo Tupí aqui estudado, lembramos a Lição 1ª, do padre jesuíta Antônio Lemos Barbosa, em seu “Curso de Tupí Antigo” - pág.27, quando diz: “O “g” nunca se pronuncia como o “J”, mesmo antes de “e”, “i” ou “Y”: mo-ingé (pron. Moingué, não moinjé) = introduzir”. Esse Tupínólogo seguiu a lição do primeiro e maior mestre da língua Tupí, o jesuíta José de Anchieta, em sua “Arte da gramática da língua mais usada na costa do Brasil”, que ensina no capítulo I (atualizada): O “g”é sempre gutural, duro: Mo-ingé (moingué) = fazer entrar”.


Cabe aduzir que, nos dicionários e vocabulários Tupí, o verbo deitar ou seu derivado deitado, traduz-se, também, dos modos seguintes:


Vocabulário da língua Brasílica (Anchieta), página 177 – Deitado estar = Aiub. Anhenongguitupa. No mesmo vocabulário temos: curar = Aipoçanõg – página 172.

“Vocabulários Portuguez-Nheengatu e Nheengatu-Portuguez”, do Conde Ermano Stradelli, página 169, temos, deitar: Ieno (leia-se jenô) – Deitar ou fazer deitar: Muienô.


“Dicionário Portuguez-Brasiliano e Brasiliano-Portuguez” (1795), reimpresso em 1934 por Plínio Ayrosa, na página 244, temos, “jenong” = deitar-se, jazer. Na página 277, vemos: “Poçanóng” = curar e “Poçanongára” = o curandeiro, o médico.


“Poranduba Maranhense” - Frei Francisco de Nossa Senhora dos Prazeres Maranhão (Francisco Fernandes Pereira) – RIHGB – Tomo LIV – Parte I, 1891, encontramos: “Poçunga” = Medicina, remédio, purga; “Poçanong” = curar; “Poçanongara” = Médico, cirurgião (pág. 260).


Pelo que vímos acima, o próprio gramático Anchieta alinha duas vózes verbais para significar deitar ou deitado: “Aiub” e “nóng”. Sendo que, o segundo verbo (nóng), é para definir quem está deitado, acamado, por estar doente, sendo medicado (poçanga), a POÇÃO de nóssas avós, compreendendo chás e banhos da medicina natural, os fitoterápicos indígenas. Daí, concluirmos que, a postura de “MÃE GERADORA” (Jericinóng), estirada de costas, com as mãos cruzadas no peito, era vista pelos índios, como àquela que está deitada por estar adoentada.




Augusta Candiane e o Bairro de santa Cruz





A VENTURA DE AUGUSTA CANDIANIO CANTO LÍRICO DO SÉCULO XIX NO RIO DE JANEIRO





Professor Guilherme Peres


“Para quem escreve memórias, onde acaba a lembrança,onde começa a ficção? Talvez sejam inseparáveis. Osfatos da realidade são como pedras, tijolo – argamassados,virados parede, casa, pelo saibro, pela cal, pelo rebocoda verossimilhança – manipulados pela imaginação criadora.Só há dignidade na recriação. O resto é relatório” (Pedro Nava).



O TEATRO

A chegada da Família Real ao Rio de Janeiro em 1808 criou novos projetos na área da cultura. Um deles foi a construção do Real Teatro de São João, em homenagem ao príncipe D. João, mais tarde denominado São Pedro de Alcântara, Constitucional Fluminense e novamente São Pedro até ser demolido, no local onde hoje se ergue o Teatro João Caetano.


Construído pelo coronel Fernando José de Almeida e inaugurado em 12 de outubro de 1813 com a presença da Corte, constituía-se no maior teatro do Brasil. Rodeado por quatro ordens de camarotes, a platéia comportava cerca de mil assistentes. “O pano de boca representava uma bela pintura de José Leandro da Costa: a entrada da esquadra portuguesa na Baia de Guanabara conduzindo a família real”. Após a inauguração, o Governo concedeu uma “verba de 150 mil réis anuais, como pagamento de três camarotes destinados a ministros e funcionários do Estado”.Em sua estada no Rio de Janeiro, a música era a arte preferida da corte portuguesa. Segundo o pintor francês Debret, D. João gastava anualmente 300.000 francos com seu corpo de artistas: “cinqüenta cantores, entre eles magníficos virtuosi italianos, dos quais alguns famosos castrati, e cem executantes excelentes, dirigidos por dois mestres de capela”.
Teodor von Leithold, capitão de cavalaria da Prússia, visitando o Rio de Janeiro em 1819, descreveu esses espetáculos no recém-inaugurado Teatro São Pedro “com 112 camarotes e 1020 pessoas: São quatro ou cinco representações semanais que variam entre comédias, dramas e tragédias em português e óperas italianas acompanhadas de bailados. Durante minha estada foi apresentada muitas vezes a ópera Tancredo, mas eu mal a reconheci de tão mutilada e estropiada por uma péssima orquestra. A orquestra é muito reduzida em número, em uma palavra, miserável: apenas um flautista francês e um violoncelista me chamaram atenção. Os violinistas então são abaixo da crítica”.


Monsenhor Pizarro assinalou que: “os figurantes apesar da falta de estudos próprios e de diretores, cumpriam dignamente suas funções. Ele acomodava na platéia mais de mil pessoas, e tinha 112 camarotes”.Maria Graham, ao visitá-lo pela primeira vez em 1822 achou-o “muito bonito”, e o viajante russo Kotzebue, esteve ali presente em 1823 ao espetáculo comemorativo da celebração da coroação de D. Pedro I, contando detalhes da chegada do Imperador:


“O Imperador era muito cortejado, e foi visitado por pessoas que se ajoelhavam e beijavam-lhe as mãos”. Ficou no camarote em companhia de Lord Cochrane que estava acompanhado da esposa.


O ex-oficial do Corpo de Estrangeiros e mal humorado C. Schlichthorst, em seu livro “O Rio de Janeiro como é”, durante sua permanência no Brasil entre 1824/1826, deixou registrado comentários sobre esse teatro em suas narrativas sobre a cidade.

“O Teatro de São Pedro é um dos melhores edifícios da cidade, de arranjo interno elegante, e ao mesmo tempo, adequado ao clima. O camarote imperial é tão ricamente adornado que será difícil encontrar um mais suntuoso na Europa. Ao longo dos renques de camarotes, corre um gradil dourado que nada subtrai aos olhos dos espectadores dos encantos das damas em vestidos de gala. No entanto o palco está pobremente decorado, e a idéia de pintar no pano de boca a baia do Rio de Janeiro deve ser considerada infeliz, por que nenhum pincel do mundo é capaz de reproduzir mesmo mediocremente, as cenas que a natureza ali debucha todos os dias”.

Ponto de referência das reuniões políticas e palco de acontecimentos históricos, ali D. Pedro, herdeiro do trono, compareceu ao voltar de São Paulo em 15 de setembro de 1822 indo ao encontro de seus súditos que, em regozijo, exibiam braçadeira nas cores verde e amarela com a legenda: “Independência ou Morte”.

O viajante Gilbert Mathison descreve um baile e ceia, oferecidos pelos oficiais portugueses em 24 de agosto de 1821 nesse teatro, “em honra da Constituição, o Príncipe e a Princesa estiveram presentes só como espectadores”. Mas tudo lhe mereceu admiração, especialmente a roupa e a aparência das senhoras: “muitas mostravam uma profusão de jóias. Beleza era notada com raras exceções, e os homens uniformizados eram ridículos pelas condecorações que vestiam”.

Segundo Melo Moraes: “a festa começou às oito horas da noite, com uma sinfonia tocada pela orquestra e outras músicas até a chegada de suas Altezas Reais, às nove horas. Cantou-se então o hino constitucional e logo depois se iniciou o baile, com uma contradança inglesa, depois uma francesa e outra espanhola, e a solfa de composição de D. Pedro. Serviu-se chá com doces nos intervalos das danças. O baile e os serviços duraram até a manhã do dia 25, sendo avultado o número de criados destinados aos serviços”.

Em 25 de março de 1823, o teatro foi cenário do juramento do Código Constitucional, e a aclamação de D. Pedro I como novo Imperador do Brasil, ao som de grande orquestra, tocando o Hino da Independência de sua própria autoria. Naquela mesma noite, o fogo envolveu o palco e se alastrou por suas dependências destruindo quase todo o prédio.

Com um empréstimo do Banco do Brasil, Fernando José de Almeida, seu proprietário, acelerou a reforma no sentido de terminar a obra o mais breve possível. No dia 22 de fevereiro de 1828 a cidade amanheceu engalanada com sinos repicando a alvorada e missas rezadas nas igrejas em Ação de Graças. Era uma homenagem ao aniversário da Imperatriz D. Maria Leopoldina. Nesse dia, um novo teatro era inaugurado com o nome de Imperial Teatro D. Pedro de Alcântara, com autorização do Imperador, assinada em 15 de setembro de 1824.

Até a data de sua partida em 1831, novas óperas foram encenadas. O período regencial, entretanto, foi de estagnação. Segundo Augusto Maurício, um cronista registrou em 1835: “Já tivemos uma boa companhia italiana; já o nosso teatro esteve em pé, se não maravilhoso, ao menos como concordavam as nossas circunstâncias; e tudo acabou”. A presença de uma Corte era primordial para estimular as iniciativas de novos espetáculos.

Em sua existência esse teatro foi invadido pelo fogo três vezes: em 1823, 1851 e 1856, tendo suas reconstruções mantidas as características originais, obedecendo a suntuosidade e a grandeza do prédio. Durante as primeiras décadas do século XIX, “recebeu conjuntos artísticos nacionais e estrangeiros – de ópera, drama, tragédia, comédia burlesca, bailado e revista, até que em 1843, foi arrematado pelo maior de todos os nossos artistas dramáticos: João Caetano dos Santos, que ali passou a dar seus espetáculos, durante algum tempo”, diz Augusto Maurício em “Meu Velho Rio”.

Em nossa pesquisa no “Jornal do Commércio”, fomos encontrar em sua edição de 11 de julho de 1839, uma nota comunicando o término de uma reforma que ali havia sido efetuada: “O Theatro de São Pedro de Alcântara, primeiro theatro do Rio de Janeiro ora reformado com toda a sumptuosidade, esta preste a abrir suas portas a numerosa população da capital”.

E justificando o novo preço: “talvez que a alguém pareça hum tanto elevado o preço dos camarotes e mais lugares; porém o público sempre justiceiro atenderá por certo”... “com huma platéia superior (cadeiras), cujos bancos são forrados de palhinha”. Prenunciando que a nova casa de espetáculos “atrairá d`oravante a afluência do público especialmente sabendo-se como se diz, que o hábil actor, o Sr. João Caetano dos Santos e a Sra. D. Estella, já se acham engajados”. E finaliza afirmando que “o Theatro de São Pedro rivalizará com os das primeiras Cortes da Europa”.



TEATRO LÍRICO

A partir de 1840, o teatro voltou a integrar-se às tradições do teatro lírico. Esplendidos espetáculos promovidos por companhias de óperas italianas nos fins de semana quebravam a rotina da cidade, lembrando os dias de fausto da Corte do Primeiro Reinado. A luminosidade dos lampiões à sua entrada e nos salões que rodeavam o palco surpreendia a todos aos que chegavam em liteiras reluzentes, trazendo ricos proprietários de fazendas e senhores de engenhos. Os “cabriolets” e os “tilburis” faziam parte desse desfile pomposo, onde cavalheiros e damas acompanhados da criadagem, farfalhavam roupas e leques de seda rendados, acompanhando as últimas modas de Paris.

Partidários de atrizes famosas faziam coro durante as apresentações. “As explosões de aplausos ou apupos dos apaixonados muitas vezes exigiam alguns ruído dos pés: a julgar pela poeira que se levanta quando aparece a Charton ou a Cassaloni, creio que há no soalho do teatro terra para encher algumas carroças”, escrevia em 1854, José de Alencar no “Correio Mercantil” – citado por Wanderley Pinho em “Salões e Damas do Segundo Reinado”.Ali receberam a consagração da platéia as sopranos: A. Ristori, A. Stoltz, Lucília Simões e o tenor Trambelick. Contratos milionários justificavam a presença do público. “Em 1852, A. Stoltz que não recebia menos de 28:000$000, quatro vezes o que ganhava um ministro. Recebeu em seu “benefício” uma coroa de ouro, brilhantes e esmeraldas, que lhe foi apresentada pela viscondessa de Abrantes. Um colar de pérolas no valor de 4:000$000 que lhe mandou a Imperatriz. Um broche de brilhantes de 1:000$000 que lhe deu a senhora Bregaro, e mais pulseiras, alfinetes, brincos...numa festa cuja renda em dinheiro subiu a mais de 16:000$000” conforme nos conta Marques dos Santos em artigo na revista “Estudos Brasileiros”.

É ainda o nome de Stoltz que aparece no livro de Charles Expilly confirmando o entusiasmo dos admiradores à cantora: “As flores, as coroas cruzavam-se no ar antes de cair aos seus pés. As mulheres, faces em fogo, seios arfantes, atiravam à cantora seus ramalhetes e lenços. Os homens gritavam à porfia e sapateavam no camarote, batendo as mãos com frenesi” e fala em jóias, presentes do Imperador, da Imperatriz, das damas da cidade, e que tudo excedia a mais de 24:000 francos.


A CONDESSA DE IGUASSU

Quarta e última filha de Pedro I com D. Domitila de Castro Canto e Melo, Maria Isabel Alcântara Brasileira, nasceu em São Paulo no dia 28 de fevereiro de 1830. Apesar de reconhecer-lhe como filha, seu pai jamais lhe outorgou um título honorífico, ao contrário de sua irmã D. Isabel Maria de Alcântara Brasileira, nascida em 23 de maio de 1824, agraciada dois anos mais tarde com o título de duquesa de Goiás. Maria Isabel só receberia o título de condessa de Iguassù, após casar-se com Pedro Caldeira Brant, filho do marques de Barbacena.

Morando em Iguassú, onde o conde era proprietário do engenho do Brejo, hoje Belford Roxo, durou pouco a “lua de mel”. Maria Isabel era “irascível, brigona e gênio tempestivo” estava freqüentemente nervosa e por várias vezes ameaçara deixar o lar.

As despesas se avolumavam com os gastos constantes da condessa, que não acompanhavam a habilidade comercial do conde em repor o dinheiro. Freqüentadora assídua dos grandes recitais dos cantores líricos italianos no Teatro São Pedro, Maria Izabel era vista regularmente desembarcando dos carros que chegavam para os espetáculos. Participando do “ruge-ruge dos balões de seda e tafetás; o namoro a distancia entre frisas e camarotes ou deles para as cadeiras; exaltações dos partidários de seus artistas preferidos; versos e flores atirados ao palco”.As oferendas a eles oferecidas alcançavam valores impressionantes. Em 1852, A. Stoltz, cantora lírica “que não percebia menos 28:000$000, quatro vezes o que ganhava um ministro, recebia em seu “benefício” uma coroa de ouro, brilhantes e esmeraldas que lhe foi presenteada pela viscondessa de Abrantes, um colar de pérolas no valor de 4.000$000 que lhe mandou a imperatriz, um broche de brilhantes de 1.000$000 que lhe deu a senhora Bregaro, e mais pulseiras,alfinetes, brincos...numa festa cuja renda em dinheiro subiu a mais de 16.000$000”.

Publicada na revista “Estudos Brasileiros” em 1952, Marques dos Santos descreve o episódio de “uma coroa de brilhantes oferecida pela sociedade fluminense representada por 44 senhoras entre as quais as viscondessas de Abrantes, de Monte Alegre, de Paraná, e a condessa de Iguassú”. Ao final de um espetáculo “cantando o dueto da “Favorita”, a senhora viscondessa de Abrantes, reclinando-se sobre o parapeito do seu camarote, estendeu os braços para a artista” lhe presenteando o “mimo” pousado sobre uma almofada. “As flores e as coroas cruzavam-se no ar antes de cair a seus pés”, diz Charles Expilly, visitante francês no Rio de Janeiro citado por Wanderley Pinto em “Salões e Damas do Segundo Reinado”.



A DIVA CANDIANI


Considerado então a expressão máxima da arte e da cultura, o espetáculo lírico vinha se desenvolvendo aos poucos no último decênio da primeira metade século XIX, até a chegada ao Rio de Janeiro em dezembro de 1843 da desconhecida cantora lírica italiana Augusta Candiani.

Nascida na Itália em 1920, Carllota Augusta Angiolina Candiani, era natural de Milão, e fazia parte de um grupo de cantores líricos e músicos pouco conhecidos em sua terra, que a bordo de um bergantin, sob o comando de um capitão e misto de empresário teatral da Companhia Italiana de Ópera, veio “fazer a América”. Tinha vinte e três anos. “Era uma mulher vistosa e bem dotada, alta e esguia, corpo bem feito, seios fartos sem exagero. Chamava a atenção pela perfeição e harmonia dos traços fisionômicos. Cabelos abundantes e claros, olhos castanhos, vivos, muito expressivos, próprio de uma grande artista lírica; nos lábios tinha sempre um leve sorriso, ao qual ninguém podia ficar indiferente”.

Acompanhada pelo marido, o farmacêutico Gioacchino Candiani Figlio, que, sem nenhum dote artístico, resolveu também vir para o Brasil em busca das oportunidades de “trabalho” que lhe faltavam na Europa, mesmo por que, Joaquim (assim era o nome que lhe chamavam no Rio de Janeiro), não era muito dedicado à labuta diária em busca do sustento, preferindo viver “assessorando” sua esposa a procura de contratos, que lhe desse uma boa vida. O milanês era loquaz e se excedia em abundância de gestos, “além de ser um tipo enfatuado e presunçoso”.Hospedados em uma pensão de segunda classe situada na Rua Mata-Cavalos (atual Rua do Riachuelo), a troupe saiu à procura de algum trabalho que lhe garantisse o sustento. Após alguns ensaios no Teatro São Pedro de Alcântara, único disponível naquele momento, fecharam contrato e marcaram a estréia para o dia 17 de janeiro de 1844. Naquela noite, o teatro teve interrompido um longo silencio.

No Almanak Laemmert encontram-se vários endereços de artistas brasileiros e estrangeiros que atuavam nas Companhias de balé, dramática e lírica, concentrando suas residências na Rua Mata-Cavalos, onde existiam várias estalagens e tabernas. Ali, nesse anuário do ano de 1844, fomos encontrar o nome da soprano Augusta Candiani.No dia da estréia, o Imperial Teatro foi invadido por um público sedento de espetáculos “com o esplendor de suas mil e tantas velas”. Anunciava-se a mostra inaugural de Augusta Candiani e seus acompanhantes do coral e orquestra. “Toda nobreza achava-se presente desde SS. MM. o Senhor D. Pedro II e sua Senhora D. Tereza Cristina Maria, consorciados havia menos de um ano, assim como os Senhores Ministros de Estado, vultos do Império e grande número de estudantes das escolas superiores, estes sempre os mais ávidos pelos espetáculos líricos, considerados então a expressão máxima da arte e da cultura”.

Ao abrir-se as cortinas, os acordes da orquestra inundaram suavemente o imenso teatro lotado. O silêncio fazia-se presente ao som dos violinos. A entrada da voz da bela prima-dona italiana cantando Norma de Bellini, com sua voz maviosa, assemelhando-se ao trinar de um pássaro a gorjear canções enternecidas, era apresentada pela primeira vez à platéia do Rio de Janeiro, deslumbrando a todos. “Depois de quatro atos da ópera, com quase todas as áreas bisadas, mal a cortina desceu na cena final, o teatro pareceu vir abaixo”. Gritos de delírio e assobios acompanhavam os aplausos com a platéia de pé. Solicitada naquele momento a comparecer ao camarote Imperial, Candiani foi cumprimentada pelos imperadores e convidada a se apresentar em um dos saraus no Palácio Imperial.

Os jornais da época registram esse encontro. Era o início de uma consagração. Dali em diante Candiani iria inspirar poemas e artigos de elogio intitulados de: “A divina Candiani”, de tantos que tiveram a oportunidade de vê-la e ouvi-la durante suas representações, como o jovem Machado de Assis, que mais tarde registrou: “Bom tempo! A Candiani não cantava, punha o céu na boca e a boca no mundo. Ouvia a Candiani e perdia a noção do tempo”, ou Maciel Monteiro: “Em que fonte de encanto e de doçura bebeste ó Candiani, a voz divina”. Ayres de Andrade Jr. no livro “Francisco Manoel da Silva e Seu Tempo” assinala que durante a primeira temporada da cantora “daria para se encher um volume de bom tamanho o que sobre ela então se escreveu em prosa e verso”.Com um total de setenta e quatro espetáculos, só “Norma” foi apresentada vinte vezes, seguindo-se variado repertório com encenações de autores consagrados como Rossini, Bellini e Donizetti. “Desse movimento, as crônicas de Martins Pena, José de Alencar e Machado de Assis deixaram fiéis retratos”, citado no romance deste em “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, e Joaquim Manoel de Macedo em “O Moço Loiro”.

Na saída do teatro sob explosões de aplausos, levando uma multidão de rapazes a se atrelarem ao carro de Candiani e puxá-lo em gritos de delírio pelas ruas da cidade, fez com que, anos depois, recordando em uma crônica em homenagem às suas últimas apresentações no Rio de Janeiro, Machado de Assis assim escreveu: “A Candiani não é conhecida da geração presente. Mas os velhos como eu ainda se lembram do que ela fez, por que eu fui um dos cavalos temporários do carro da “prima dona”, nas noites da bela Norma”.“Oh! tempos!. Oh! saudades!. Tinha eu vinte anos, um bigode em flor, muito sangue nas veias e um entusiasmo capaz de puxar muitos carros, desde os carros do Estado, até o carro do sol – duas metáforas que envelheceram como eu. Quando ela suspirava a Norma era de por agente fora de si. E hoje volta a Candiani depois de tão largo silencio a acordar os ecos daqueles dias. Os velhos como eu irão recordar um pouco da mocidade: a melhor cousa da vida e talvez a única”.



A IMPERATRIZ


Afonso de Taunay em “No Brasil de 1840” assim se refere a D. Teresa Cristina, esposa de D. Pedro II: “Como boa napolitana, tinha especial predileção pelo canto e pela ópera. Ela própria gostava de cantar”. Segundo Taunay, citando o testemunho do diplomata francês André Victor Itier, “que um dia surpreendeu-a na janela a cantar uma área do “Barbeiro de Sevilha”.Descrevendo o acontecimento relata que: “Ao aproximar-se das janelas de certa ala do palácio, estancou surpreso. Havia alguém que cantava de modo delicioso e com a maior expressividade a famosa ária “Una voce poco fá”. Um bom piano acompanhava a cantora. Tão entusiasmado ficou o diplomata”, lembra Taunay ao resumir o relato, “que instintivamente, quase prorrompeu em aplausos calorosos. Conteve-se a tempo e finalmente apareceu a cantora à janela, apanhando-o em flagrante delito de curiosidade. Era nada menos que a Imperatriz do Brasil”.



CELEBRIDADE


Muitos outros espetáculos se sucederam com o teatro lotado. A fama e o dinheiro subiram à cabeça de Joaquim, marido da cantora, que planejava a mudança de moradia para uma residência suntuosa. Ao contrário da modesta esposa que gostaria de uma casa mais simples. Numa noite, durante o jantar oferecido ao casal num elegante restaurante de um compatriota estabelecido na Rua Direita, atual Primeiro de Março, conheceram o senhor José de Almeida Cabral que lhes ofereceu uma de suas moradas que estava para alugar e convidou-os para visitá-la.Cercado de um verde luxuriante ao pé da Serra da Tijuca, “o casarão era no estilo clássico de um só pavimento colonial, com grade e confortável varanda na fachada”. A modéstia de Candianni, porém, não permitiu que fechassem o negócio. Artista em início de carreira não sabia até quando o sucesso lhes sorriria, ao contrário do falante Joaquim que em gestos largos planejando um futuro promissor, tanto argumentou que sua esposa acabou cedendo e, dias depois, a mudança foi efetuada.

Os saraus no palácio com a presença da cantora se repetiram a convite da Imperatriz, que além do gosto pelas óperas, também se identificava com ela pelo domínio do mesmo vernáculo, pois Dona Tereza Cristina tinha descendência na nação italiana, fazendo com que esses acontecimentos freqüentes divulgados pelos jornais, elevassem a celebridade da cantora.Para compor a missa que se realizaria durante as festas de Nossa Senhora do Carmo da Ordem Terceira em 1852, assistida por Suas Majestades, Candiani foi convidada a cantar o “Te Deum” de Bildim, acompanhada de coro, e uma orquestra de “mais de sessenta professores”.

Esse sucesso seria interrompido quando os primeiros sintomas de gravidez manifestaram-se durante uma apresentação de ópera no Teatro São Pedro. Candiani passou mal com tonteiras embargando-lhe a voz, sendo atendida por um médico presente. Passado o susto e diagnosticado como cansaço, o espetáculo continuou.A confirmação da espera de um “bambino” cessou por algum tempo a temporada lírica de Candiani e também os saraus promovidos pela imperatriz, que ficou radiante com essa notícia. Após o nascimento de uma menina em março de 1844, os imperadores ofereceram-se para serem seus padrinhos, batizada com o nome de sua madrinha Theresa Christina Maria Candiani Figlio, estreitando ainda mais seus laços fraternais.

Nesse período chegara da Itália a soprano Clara del Mastro, jovem, bonita e possuidora de maviosa voz, colocando em perigo o sucesso conquistado por Augusta e formando adeptos da cantora que lotavam as noites de gala do teatro. Aplaudida entusiasticamente no final de cada espetáculo, tornando-se manchete nos jornais, o público aos poucos ia esquecendo a divina Candiani, que em sua chácara na Tijuca, maldizia a má sorte de, naquele momento de sucesso, ter cedido espaço para uma rival.As brigas entre ela e o marido se sucediam provocadas pelos desmandos nas finanças do casal. Joaquim gastava o que tinham e o que não tinham. Meteu-se em um negócio de terras pros lados de Niterói, e os “investimentos” só trouxeram prejuízos. A ausência do esposo durante semanas, que voltava sempre mais falante só para pegar dinheiro, a deixava cada vez mais irritada.Durante essa solidão a figura elegante e educada do Sr. José de Almeida Cabral, era visita constante ao solar do Caminho da Tijuca, do qual era proprietário. Sempre prometendo ajudá-la se algum dia viesse a ter uma queda de rendimentos, Cabral não escondia suas verdadeiras intenções. Aceitando conselhos sobre sua vida particular e contando passagens de sua mocidade vividas na Itália, a cantora facilitava-lhe a aproximação. Não havia dúvida, um novo sentimento estava nascendo no seu coração.

Possuidor de alguma prática em dedilhar o violão, formava dupla com Candiani, ensaiando na varanda trechos de modinha de sua autoria, ou composições que estavam em moda no momento. Gênero musical existente desde o século XVIII, a modinha vinha se firmando no cenário musical dos artistas durante o período do Império quando eram cantadas nos saraus e nos intervalos das óperas acompanhadas pelo coro da platéia. “Nos salões aristocráticos do Rio de Janeiro, São Paulo e outras cidades brasileiras, nas décadas de sessenta e setenta em pleno Segundo Império, entre as músicas de dança executadas pelas orquestras, ouve-se belas modinhas”.Até a segunda metade do século XVIII, a música cantada ou tocada no Brasil era de forma anônima ou folclórica. A partir daí, é que “começam a aparecer as primeiras formas populares – o lundu e a modinha – e a surgir, em maior escala nomes de compositores, cantores e músicos, nascendo assim a música popular brasileira. Ela se põe a correr em leito próprio, que não mais o da música folclórica”, diz Ary Vasconcelos em “Raízes da Música Popular Brasileira”.

Candiani se sentia cada vez mais atraída por seu protetor. Era chegado o momento de seguirem juntos para uma nova vida, entretanto a moral vitoriana da época não permitia que tal atitude fosse assumida. Seu contrato para a temporada no Teatro São Pedro poderia ser anulado. E a Imprensa publicaria o escândalo chamando-a de adúltera, anulando para sempre o convívio com a família Real. Tudo isso era refletido pela cantora temerosa das conseqüências que poderiam surgir.

Com o sucesso de Clara del Mastro, um novo contrato para Candiani em condições desvantajosas para uma temporada lírica assinada pelo Sr. José Cabral, veio precipitar os acontecimentos. À chegada do marido encolerizado por esse ato, exigia da esposa que cobrasse de seu “novo empresário”, o ressarcimento dos prejuízos. Ao pedir explicações à mulher o casal entrou em acalorada discussão levando o marido a esbofeteá-la.Pela madrugada, Candiani deixou a chácara para sempre. Com um escravo de confiança dirigindo a carruagem e a ama de leite abraçada à filhinha dirigiu-se ao encontro de seu amado que lhe aconselhou ocupar uma casinha de sua propriedade em Botafogo.

A notícia caiu como uma bomba na cidade. A Imprensa noticiou o caso da separação e seu marido entrou na Justiça com um pedido de reintegração de posse dos bens do casal e da menina, o que foi atendido pouco tempo depois.Ao voltar ao palco, o público diminuía a cada espetáculo. A presença de suas majestades nunca mais foi vista, e os convites para os saraus no Paço de São Cristóvão deixaram de acontecer. As portas do palácio haviam sido fechadas para sempre.

Discriminada como mulher separada do marido e assumindo a companhia do compositor de modinhas e endinheirado Sr. José Cabral, Candiani foi “convidada” a pedir licença do Teatro São Pedro em face dos prejuízos que estava causando sua temporada. Nem precisava, numa madrugada a cidade acordou com as labaredas devorando mais uma vez a grande casa de espetáculo. Nesse intervalo, Clara del Mastro, arranjou um sócio e partiu para novo empreendimento alugando uma antiga casa de espetáculos fechada, denominada Teatro São Januário localizado na atual Rua D. Manoel. Em mau estado o prédio teve que receber reformas ficando pronto em alguns meses. Ali, Candiani seria convidada a subir ao palco em algumas representações sem, entretanto, obter o mesmo entusiasmo de outrora.


MARIETTA BADERNA

Nascida na Itália em 1828, Marietta Baderna revelou excepcional talento para a dança. Aos doze anos de idade, seu pai a levou para Milão onde ingressou na escola de balé estreando no Scala em 1843, tornando-se, em pouco tempo, a primeira bailarina desse famoso teatro. Viajou pela Europa colhendo grande sucesso em Londres e Triestre.Ao ser contratada pelo Teatro São Pedro no Rio de Janeiro, estreou na noite de 29 de novembro de 1849 sendo aplaudida em delírio. “O jornal “Correio Mercantil” a classificou como a ”rainha das fadas”. “Em poucos meses Marietta tornou-se uma espécie de divindade pagã, musa da juventude, romântica admirada pelos intelectuais e desejada pelos aristocratas”.

Naquele momento, a febre amarela começava a fazer suas primeiras vítimas e Marietta foi alcançada pelo mal, ficando entre a vida e a morte. Seu pai morreu em uma semana após contrair a doença. “Nada menos que 80% dos artistas que vieram com ela sucumbiram”, diz Homero Fonseca em “A Bailarina e o Dicionário”.Passando a viver maritalmente em companhia do namorado, o bailarino francês Jean Tupinet, Marietta tornou-se mal vista pela sociedade. “Sua amiga, a soprano Augusta Candiani, largou o marido e foi viver com outro – mais um escândalo. A fama das artistas italianas tornava-se cada vez mais negativa. Ainda por cima Marietta era aplicada devota do absinto e, cúmulo dos cúmulos, freqüentava, na companhia de jovens intelectuais pálidos e barbudos, as praias e a Praça da Carioca, onde negros e mestiços se exibiam em danças consideradas lascivas e imorais”. Ao deixar o Rio de Janeiro, Marietta embarcou para Recife apresentando-se no Teatro Santa Isabel onde já atuavam Augusta Candiani e o maestro Gianninni.

Rompendo com as danças tradicionais durante sua temporada e aceitando o desafio de um de seus admiradores, publicado no “Diário de Pernambuco”, Marietta levou para o palco a dança popular do lundu. “O público se dividiu violentamente: na platéia os estudantes de Direito aplaudiam e gritavam bravos! Nos camarotes, a elite açucareira se dividia e gritava apupos. Por pouco não se chegou às vias de fato. Em maio ela repetiu a dose com o balé “Negri”, de título inequívoco. Novas confusões na platéia. A palavra baderna começava a ganhar um novo significado.Voltando ao Rio, Marietta Baderna continuou a freqüentar lugares “impróprios” para uma dama da sociedade, “provocando uma reação irada dos conservadores”. O “Jornal do Comércio” liderava uma campanha moralizadora acusando-a de deturpadora da arte, e fazer dela “uma escola de prostituição”. Seu público diminuía a cada espetáculo. Ao voltar à Europa “Ela ainda tentaria uma mini-temporada na França” quando deixou de comparecer a um dos espetáculos atribuído ao álcool.Voltando ao Rio de Janeiro, “o túmulo do seu talento”, tornou-se professora de dança. Viveu precária condição financeira ate mergulhar no esquecimento, sendo lembrada hoje apenas no verbete dos dicionários.


VASSOURAS

Senhor de uma das maiores fortunas concentradas durante o apogeu da cafeicultura escravista e representante típico da oligarquia rural fluminense na região de Vassouras, Francisco Peixoto de Lacerda Werneck, o Barão de Paty do Alferes, deixou ao morrer, em 1861, sete fazendas montadas com cerca de mil escravos, terras no rio São Pedro, fronteira com Minas, e diversos pousos espalhados ao longo da Estrada do Comércio.

Nascido durante o Brasil-colônia, considerava a escravidão “a ordem natural do mundo” e a monarquia “a boa ordem”, cuja admiração seria representada com a construção à margem da Estrada do Comércio, em uma de suas fazendas denominada Sant’Ana das Palmeiras, no alto da Serra do Comércio, uma Capela dedicada à Senhora Sant’Ana, início da construção da cidade de Isabelópolis, em homenagem a Princesa Isabel. Para isso gastou uma pequena fortuna, ocupando durante quase quatro anos “30 trabalhadores, 12 junta de bois, carroças etc.”, e manifestou essa intenção ao diretor de obras públicas da Província: “Estou com desejos de fundar os alicerces de uma cidade, no lugar da capela, com o nome de Isabelópolis, em obséquio de nossa Princesa Imperial”.O fim da primeira metade do século XIX chegara em um momento de opulência, com a cotação do café em alta no mercado internacional. Formaram-se as “casas comissárias”, uma espécie de banco que comprava a safra, adiantava empréstimo para a colheita seguinte, e adquiria escravos.Vassouras conquistava, aos poucos, um alto vigor econômico na escala social, fazendo com que os donos do poder almejassem um sofisticado tipo de diversão que atendesse a nova sociedade de “punhos rendados”, cujos saraus familiares já não satisfaziam mais os seus prazeres.A adaptação e a reforma de um conjunto de habitações no centro de Vassouras, foi uma iniciativa liderada por uma associação de proprietários que a transformaram em uma casa de espetáculos “despido de conforto e elegância”, sendo, porém, o palco erguido com imponência e decorado com esmero, ostentando grossas cortinas de veludo e camarins aparelhados para receber qualquer espetáculo lírico, luxuoso ou não, contendo “representações de dramas, óperas e operetas”. À sua frente, ao nível da platéia, cadeiras confortáveis eram destinadas aos componentes da orquestra.


NOVOS RUMOS

Em suas andanças pela Serra, o Sr. José Cabral encontrou-se em Vassouras com as lideranças desse empreendimento, conseguindo fechar contrato para uma pequena temporada de apresentação de sua Companhia de Óperas. Era chegado o tempo de conquistar novas platéias, pois na Capital do Império o desinteresse em torno de sua cantora lírica e a febre amarela que se espalhava pela cidade, elevava o óbito de centenas de pessoas, levando o pavor para a população que se recolhia em suas casas com medo do contágio.


EPIDEMIA

Adéle Toussaint-Samson era uma professora de dança e artes que chegou ao Brasil por volta de 1850, com o filho e o marido fugindo da epidemia de cólera que assolava a Europa e descreve como encontrou no Rio de Janeiro: “A mortalidade era tanta na cidade e os cemitérios estavam tão cheios que já não se podiam enterrar os mortos”. A própria Adéle caiu doente, em seguida a escrava que eles haviam alugado, e por último seu marido. Dos vinte oito passageiros do “Normandia” que chegaram à cidade juntos com o casal, havia apenas três meses, dezessete já haviam sucumbido.A procura de um médico patrício por recomendação, chamado Dr. Paitre, foi inútil, pois o mesmo havia contraído a doença e se ausentara da Côrte, obrigando Adéle e seu marido a se auto medicarem com remédios homeopáticos trazidos da França, oferecidos pelo seu próprio descobridor Samuel Hahnemann. “Sem conhecer ninguém na cidade, sem médico, sem criado, com muito pouco dinheiro e um filho de dezoito meses que eu acabara de desmamar, assim era a nossa situação”.

Ao alugar uma casa na Rua do Rosário para onde se mudou com a família, Adéle descreve sua condição higiênica e o comércio que compunha esse arruamento: “Ela é estreita, triste e, por todo estabelecimento comercial não tem mais que vendas no térreo das casas, isto é, sombrias lojas onde se amontoam montanhas de carne seca e bacalhau, os sacos de feijões e de arroz, bem como os queijos de Minas... dizer-lhes que cheiro horrível exala aquele bacalhau e aquela carne seca é impossível!...a rua é estreita, jamais varrida ou molhada, que o sol dos trópicos a aquece incessantemente e tentem fazer uma idéia das emanações que aqui se desprendem !”


A VIAGEM

No interior seria diferente. Apesar das acomodações precárias era necessário se adaptar a nova realidade. Novos ares saudáveis da Serra trariam novas amizades e outros contratos. Assim que a notícia se espalhou pelos jornais da cidade, o povo vassourense se preparou para ter a glória de receber em seu “teatro lírico, a aclamadíssima figura da Signora Augusta Candiani”.

“Vinha como prima-dona da Companhia que encerrava no seu elenco o apreciadíssimo tenor Licori que por tantas vezes arrebatara a platéia do Rio, e como baixo o professor Orlandini, tão provecto na música como no manejo das línguas, pois era um verdadeiro poliglota”, diz Ignácio Raposo em “História de Vassouras”. “Para fazer parte da Companhia, convidara-se o grande baixo Luiz Pistarini que tanto renome adquiriu na Capital do Império, mas o oneroso contrato que o prendia ao “provisório” , não lhe pode permitir semelhante afastamento”.O “Jornal do Comércio” no dia dois de setembro de 1854 registrou esse contrato. Na sede da Companhia, os artistas e servidores se movimentaram para iniciarem essa experiência de trabalho fora da Capital. Todos se revezaram nas tarefas de embalarem os cenários, revisar as roupas, afinar os instrumentos musicais, preparar as malas, examinar cuidadosamente carroções e animais, para finalmente partirem da sede do Império no dia oito do mesmo mês, pela madrugada, deslocando grande caravana a caminho da Vila de Iguassú.

Já eram comuns as viagens para o interior da Província, servidas mais tarde pela Estrada de Ferro D. Pedro II. A existência de inúmeros veículos de tração animal à disposição do usuário eram constantemente solicitados por viajantes, para subirem a Serra em busca de tratamento de saúde ou “tomar ares”, conforme nos conta Noronha Santos transcrevendo Francisco Otaviano em sua crônica semanal no “Jornal do Comércio”, no dia 6 de novembro de 1853, aconselhando o presidente da Província do Rio de Janeiro, conselheiro Barbosa a se ausentar da cidade em busca de tratamento. “Se S.Exa. quiser tomar ares em algum município de Serra acima, tem hoje a comodidade de poder fazer a viagem de sege pela excelente estrada da Bocaina dos Mendes. Ainda a pouco tempo, no dia 24 do mês passado, a Ex.ma. Sra. marquesa de Baipendi saiu dessa Corte pela madrugada e no dia seguinte, às quatro horas da tarde, estava em sua fazenda de Santa Mônica a vinte léguas de distância, no município de Valença, com excelente viagem, tendo-a feito quase toda de sege, apeando-se em alguns pontos, que ainda inspiravam-se receios”. E acrescentava Otaviano mostrando os benefícios das boas estradas construídas: “Terminados os trabalhos de melhoramentos dessa estrada, pode-se ir daqui até ao Paraíba, por Vassouras, de sege, em dia e meio”.


TRANSPORTE COLETIVO

No “Almanak Laemmert” referente ao ano de 1854, vamos encontrar a inédita referência a uma “Companhia de Ômnibus” denominada “Companhia Iguassuana”, composta de carruagens com tração animal transportando de 8 a 12 pessoas por viagem, como predecessores das linhas de transporte regular para o interior da Província, cujos serviços estavam implantados e destinados ao centro da cidade desde 1838.

Essas viagens eram feitas todos os domingos, terças e quintas-feiras com início da partida marcada para as “6:30 horas da manhã”, sendo os “bilhetes” vendidos antecipadamente na “Côrte, na rua do Hospício 32, saindo do Campo da Aclamação defronte do Museu”, com destino a “Vila de Iguassú”, passando por Pavuna. Com uma parada nesse local “de ¾ de hora” para troca dos animais, ao lado do “Hotel do Templo”, cujos proprietários Srs. Souza Amaral & Faria, também vendiam “bilhetes”.

As partidas “de Iguassú” eram pela manhã as 6:30, “todas as segundas, quartas e sextas-feiras”, e os preços das passagens custavam: “Da Corte a Pavuna 4$000. Da Corte a Iguassú 6$000”.


OS CAMINHOS

Ao iniciarem a viajem pelo “Caminho de Terra” todos passavam diante do palácio São Cristóvão, cuja visão à direita era a Baia de Guanabara e à esquerda “um vale semeado de colinas e casas de campo”, tendo ao fundo as montanhas da Tijuca cobertas de matas virgens. “Talvez cousa alguma no mundo se compare em beleza aos arredores do Rio de Janeiro”. Vamos acompanhar o relato do viajante francês Saint-Hilaire, elogiando as florestas “tão velhas como o mundo”, e “que todos os meses do ano estão ornadas de flores vistosas”.Descrevendo a estrada que saía da Capital, o botânico afirma que durante duas léguas “não deixamos de encontrar homens a pé e a cavalo, e negros que conduziam descarregados os cargueiros que pela manhã haviam levado à cidade com provisões”. Em meio à poeira “rebanhos de bois e varas de porcos tocados por Mineiros avançavam lentamente”. Nas tabernas o ruído dos escravos era ensurdecedor, misturado aos “homens livres de classe inferior”.

Ao sair do Rio de Janeiro, o botânico registra o fim das chácaras em volta das casas e o início dos canaviais circulando os engenhos de açúcar, que fumegavam tocados pelo braço escravo, “em número de cinco na paróquia de Inhaúma, e já em Irajá atingem a doze, e onze na de Santo Antônio de Jacutinga, paróquia que vem depois de Irajá”, (onde provavelmente dormiram) “e cujas terras baixas e úmidas convém perfeitamente à cultura da cana-de-açúcar”.

“Imagine-se uma Companhia Lírica, acompanhada de uns trinta professores de orquestra a conduzir consigo imenso instrumental com baixos, bombardões, violinos, tambores, címbalos e rabecões, além de malas, fardos, embrulhos, cenários e caixotes, ocupando seguramente de duzentos a trezentos animais, a atravessar estradas escabrosas, repousando em pobres estalagens, dormindo ao tempo, e finalmente entrando pela Vila adentro, onde seriam poucos os hotéis para acomodar tanta gente”.

“No dia nove, um sábado, saltava das diligências da Corte na pitoresca Vila de Iguassú, aquele exército de artistas, que após ligeiro descanso, cavalgando ótimos cavalos, partiam a trote pela estrada” do Comércio, “sempre dispostos a rir e a maldizer de tudo”, diz Ignácio Raposo.


ASPECTOS DA VILA DE IGUASSÚ

Waldick Pereira assim nos conta os aspectos da Vila de Iguassú: “descendo pela estrada do Comércio, tinha dois caminhos para o porto; depois de passar pelo riacho do Lava-pés, adjacente a fralda do morro do Vitor (assim chamado, o riacho, por ter um chafariz onde os viajantes refrescavam-se e lavavam os pés para entrar na Vila), podia seguir pela Rua do Comércio ou contornar pelo Caminho dos Velhacos”. O coronel Alberto de Mello explicou a Waldick que o caminho tinha esse nome “por razões óbvias, pois quem devia aos comerciantes da Rua do Comércio... fazia um percurso em curva, desde a entrada da Vila, até o Porto”.

“No centro da Vila, perto do porto, estavam os edifícios da Câmara, Cadeia, Fórum, armazéns e casas comerciais... Ao longo do Rio Iguassú, em direção ao “Caminho da Serra”, estavam os portos do Pinto, do Viana e dos Soares & Mello. Atrás da igreja de N. S. da Piedade e em frente ao cemitério de N. S. do Rosário (chamado “dos ricos”), a Rua da Igreja se bifurcava: um braço seguia para Machambomba e outro, era o caminho das Palmeiras, atravessava a Rua do Cachimbau para se encontrar com a Estrada da Olaria”.

“O Riacho Lava-pés tinha dois chafarizes”, prossegue o Cel. Alberto de Mello: “um à entrada da Vila, a que já nos referimos, e o outro, mais junto do centro, entre o Largo dos Ferreiros e a Rua da Mata. Este ponto vivia constantemente alagado e sujo, em virtude do desperdício d'água e dos porcos que andavam soltos por ali”. O Cel. Alberto afirmava ainda que as únicas ruas calçadas eram as Ruas do Comércio, o Caminho dos Velhacos e a Rua da Igreja. No centro da Vila, a cadeia era composta por quatro celas e, segundo o Relatório da Província de 1874, “todas com sofríveis condições de salubridade e segurança, as quais podem acomodar até 50 presos... todas assoalhadas, é segura e salubre, e tem tarimba”.


ESTRADA DO COMÉRCIO

Iniciando em Vila de Iguaçu sua trajetória de 10 léguas, essa estrada atravessava a Serra do Tinguá e da Viúva, a Vila de Paty do Alferes, Vassouras, atravessando o Rio Paraíba em direção a Minas Gerais.Com um traçado proposto pelo sargento-mor Inácio de Souza Werneck, três anos após a vinda do príncipe D. João ao Brasil, já era estudada sua abertura aproveitando as trilhas abertas pelos tropeiros, e abraçado pelo também sargento Francisco José Soares de Andréia, “Luminar da Engenharia Militar e Cartográfica do Brasil” cujos trabalhos duraram de 1813 até 1817.

Esquecida em sua manutenção, a chuva começou a fazer seu estrago natural. Com o aumento da produção cafeeira, e gêneros de primeira necessidade, seguindo para o porto do Rio de Janeiro, sede do Império, através de um percurso longo, cansativo e perigoso para as tropas, pelos precipícios que surgiam durante a caminhada, começou a pensar-se no seu calçamento, o que foi mais tarde determinado pelo Presidente da Província Fluminense, Conselheiro Paulino Soares de Souza, sua reconstrução e “empedramento”, mediante contrato assinado em 1839 com o Cel. de engenheiros Conrado Jacob Niemeyer.

Como eixo central de ligação entre o interior e a Corte, essa estrada tornara-se geograficamente estratégica e de vital importância para a economia fluminense, indo ao encontro ao seu sistema hidrográfico, com “tropas de carga e passageiros, vindo ou indo para aquelas províncias, forçosamente tinham que se demorar em Iguassú, sede da Vila, ou mais longe dela, como em Sant'Ana das Palmeiras, no alto da serra”.


CHEGADA

Saboreando o apogeu econômico e social da riqueza café, Vassouras engalanou-se para receber pela primeira vez em seu solo, uma completa orquestra e os componentes de uma ópera de origem italiana acompanhada de uma cantora lírica famosa. As ruas encheram-se de gente dando vivas à diva Candiani, movimentando o comércio com as tabernas cheias, cujo comentário geral era a chegada da troupe.

As casas das famílias mais abastadas ofereciam seus aposentos para acomodar os restantes dos artistas que não encontraram abrigo nas estalagens, “mas deste ou daquele modo, o certo é que a Companhia se aboletou perfeitamente, e após alguns dias de descanso entrou na faina costumeira”.

As assinaturas para assistirem um dos cinco espetáculos estipulados no contrato foram logo vendidas, tendo a Companhia que se alongar durante mais três meses, de 11 de dezembro de 1854 a 6 de março de 1855, tal o interesse despertado pela população, “tendo efetuado 24 récitas de assinatura com o maior sucesso de platéia e bilheteria”.

O luxo e a pompa eram predominantes nos espetáculos. Em um trecho da carta escrita pelo empresário da Companhia dirigida ao Dr. Francisco de Assis Almeida, um dos maiores entusiastas pela organização dessa empresa teatral afirma: “Já comprei um riquíssimo guarda-roupa como talvez o João Caetano o não tenha: é verdade que muito perto está de 400$000, porém quero mostrar que o público vassourense é merecedor de muito mais; as músicas que estou mandando apartar são mais de 70 peças novas, o que custa hoje muito dinheiro, para haver de ter noites muito agradáveis, por que com a nova aquisição do baixo, os meus recursos são grandes”.O movimento comercial se movimentava com o comércio do café.“O ano de 1854 foi um ano de glórias políticas e teatrais”. A prosperidade econômica multiplicava o número de negócios “até mesmo os de transações bancária em que se faziam rápidas fortunas”, tiveram seus movimentos diminuídos no ano seguinte. A epidemia de varíola chegou à cidade antecipando o término da temporada. Fecharam-se os hotéis. Os compradores de café deixaram de efetuar negócios e de se divertir na cidade, refugiando-se mais para o interior, e com eles Candiani e a troupe do Sr. José Cabral.

OUTROS ESTADOS


Ao percorrermos essa pequena história do teatro lírico no Brasil, representada por uma cantora de ópera das mais expressivas, deparamos com a ausência do registro de apresentação da Companhia fora do Rio de Janeiro. Mesmo assim fomos colher na seara de Andréa Carvalho Stark, que Candiani após sua temporada em Vassouras, viajou para São Paulo, Minas Gerais e Pernambuco, onde se apresentou com êxito no “Teatro Santa Isabel, do Recife”, já em companhia de sua outra filha Maria Augusta, fruto de seu segundo marido e empresário José Cabral, e que mais tarde viria atuar como atriz ao seu lado, na Companhia Dramática Cabral.

“Além da ópera, Candiani também cantou modinhas, transpondo as barreiras entre o erudito em língua italiana e o popular em língua portuguesa”. Fixou residência no Rio Grande do Sul, ali atuando durante longo período. Separou-se de seu segundo marido, o empresário José de Almeida Cabral, voltando para o Rio de Janeiro em 1877. Trabalhou em papéis secundários em operetas, mágicas e comédias, ao lado do famoso comediante Francisco Corrêa Vasquez até o ano de 1880.

Nessa data aos sessenta anos, com problemas econômicos, uma voz claudicante e o cabelo encanecido, Augusta Candiani, a cantora lírica que encantou uma geração, recebe como doação do imperador, uma casa humilde para passar os últimos anos de sua vida no distante subúrbio de Santa Cruz. Quanto ao destino de seu ex-marido, o empresário teatral e outrora “endinheirado” José Cabral, fomos encontrar alguma luz histórica sobre seus últimos anos de vida, no livro de Wanderley Pinho, que a ele se refere como morando em São Paulo, “Pobre e obscuro, dando “bifes” num hotel, depois de vender bilhetes num quiosque da rua de São Bento, anunciando suas composições musicais, suas canções e modinhas, no “Álbum dos Rouxinóis”, as “Rosas loucas”, “As Saudades do Norte” e cantando ainda ao violão, com a voz turva de velho; aquele de quem dizia Roberto Tavares na “Província de São Paulo” (5 de junho de 1881); -- “morrendo o velho Cabral, morreu a modinha brasileira.”


SANTA CRUZ

Tradicional subúrbio da zona Oeste do Rio de Janeiro, essa região fez parte da antiga fazenda de Santa Cruz. Vastíssimas terras outrora pertencentes aos Jesuítas, onde grandes obras de engenharia hidráulica foram executadas para dessecamento do solo em proveito da lavoura de cana, café e criação de animais destinados a pecuária. Considerada como uma das mais opulentas do Brasil Colônia, Santa Cruz foi abandonada após a expulsão dos Inacianos. Pela Constituição do Império de 25 de março de 1824, foi incorporada ao patrimônio nacional, servindo como retiro e lazer de D. Pedro I e seus sucessores. No final do século XIX, para abastecer de carne a população do Rio de Janeiro, era inaugurado em 1881 com a presença de D. Pedro II, o Matadouro Santa Cruz, iniciando-se a seguir, diversas melhorias como a instalação de um gerador de energia, sendo este o primeiro bairro do subúrbio a receber luz elétrica. Para a captação de águas foram represados os rios da Prata e do Medanha, construindo-se duas vilas de casas destinadas a moradia dos operários.Para servir de sede administrativa, foi erguido o Palacete do Matadouro, em estilo neo-clássico, todo rodeado por um belo jardim, projetado e executado pelo paisagista François Marie Glaziou, o mesmo que criou os jardins da Quita da Boa Vista e o Campo de Santana. O ramal ferroviário chegou à Santa Cruz em 1882, facilitando o deslocamento dos moradores e transportando o gado abatido para a cidade, contribuindo com o aumento populacional e confirmando o início da ocupação urbana dessa região.


OCASO

Foi essa a Santa Cruz que Candiani encontrou quando se retirou da atividade artística. Sua vida a partir daí é coberta de mistérios. Os historiadores navegam no escuro à procura de documentos que registre sua atividade nesse distante subúrbio. Sabe-se que ela morou em uma humilde casa doada pelo Imperador, cuidando de uma neta de nome Alice. “Talvez não estivesse sozinha” diz Andréa Carvalho, “morava próximo ou juntamente com Bartholomeu Guimarães”, um autor e ator cômico português que veio do Rio Grande do Sul onde atuava ao seu lado. Teria Candiani sobrevivido com uma pensão também doada pelo Imperador? Participou de alguma atividade cultural em Santa Cruz? Segundo Andréa Carvalho, no livro não publicado de Tácito Pace, consta como seu endereço, a Rua Senador Câmara 215, naquele subúrbio. Trata-se de uma casa simples com janelões à margem da rua, parecendo uma construção de final de século conforme foto da mesma autora, cujo prédio foi tombado pelo patrimônio histórico em 1993. Alguns meses depois de proclamada a República, Augusta Candiani falecia esquecida em 1890 nesse distante subúrbio, como consta o atestado de óbitos registrado na 13º circunscrição de Campo Grande. Um ano depois faleceu Bartholomeu Guimarães, havendo registro de seu óbito na mesma circunscrição.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


Fridman, Fania – “Donos do Rio em Nome do Rei”.Ed. Garamond – 1999 – RJ.

Santos, Noronha – “Crônicas da Cidade do Rio de Janeiro”.Ed. Padrão – 1981 – RJ.

Carvalho Stark, Andréa – “Augusta Candiani, um Signo de Paixão”.

“Quarteirão” – Jornal Comunitário de Santa Cruz (NOPH)Set / Out – Nov / Dez 2007 – RJ.

Vasconcelos, Ary – “Raízes da Música Popular Brasileira”. Ed. Martins / MEC – 1977 – RJ.

Andrade, Áttila de – “A Glória de Augusta Candiani”.Ed. Record – 1973 – RJ.

Rodrigues, José Honório – “Independência: Revolução e Contra-Revolução”. Ed. Francisco Alves – 1975 – RJ.

Maurício, Augusto – “Meu Velho Rio” – Pref. Dist. Federal – RJ. SD.

Pinho, Wanderley – “Salões e Damas do Segundo Reinado” 3º. Edição – Ed. Livraria Martins – SP.

Debret, Jean Baptiste – “Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil”. Ed. Martins/ MEC - 6ª. Ed. 1975 – SP

Expilly, Charles – “Mulheres e Costumes do Brasil” – Col. Brasiliana Cia. Ed. Nacional/ MEC – 1977 – SP.

Schlichthorst, C. - “O Rio de Janeiro como É” – Ed. Getulio Costa – RJ. SD.