Capela, depois, Matriz de N. S. da Piedade de Iguassu


Igreja de N. S. da Piedade de Iguassu-início do Séc. XX-reprodução acervo Victor Antunes



Paulo Clarindo

Amigos do Patrimônio Cultural

Janeiro de 2011




A Igreja Matriz de Nossa Senhora da Piedade de Iguassu, sede da freguesia de mesmo nome, tem sua origem numa ermida levantada no século XVII, antes do ano de 1699, numa propriedade particular. Posteriormente, fora submetida a três reedificações, já como matriz da freguesia, num sítio pouco afastado da primitiva construção, como veremos a seguir.

1ª construção (capela primitiva)


A primitiva capela sob o orago de N. S da Piedade de Iguassu fora erguida antes do ano de 1699 em terras pertencentes ao alferes José Dias de Araújo.


2ª construção (1ª reedificação)


Arruinada a capela primitiva, Monsenhor Pizarro nos conta que o povo resolveu reedificá-la, porém, “...em um lugar um pouco distante da primeira e em terras do mesmo dito alferes e já de Diogo Dias de Araújo, filho daquele...” . Esta nova capela fora feita de pau a pique.


3ª construção (2ª reedificação)


Esta, que representa a 2ª reedificação do templo, fora executada com a capela-mor em pedra e cal, entre os anos de 1764 e 1766, mas com as paredes ainda de pau a pique.

Monsenhor Pizarro relata uma intervenção na igreja, quando “...chegaram as suas paredes, também de pedra e cal, até a altura de mais de uma braça fora dos alicerces...”

Antes de tratarmos da 4ª e definitiva construção (3ª reedificação), abordaremos alguns relatórios da Presidência da Província do Rio de janeiro tratando da necessidade de reedificação da Matriz de N. S. da Piedade de Iguassu.


Relatórios da Presidência da Província do Rio de janeiro



1839


Relatório do presidente Paulino José Soares de Souza (Visconde de Uruguai em 1854) propondo a reconstrução da nova matriz sobre as ruínas da anterior. Consta a informação de que até esta data a torre ainda não havia sido construída.


1853


Relatório do presidente Luiz Pedreira do Couto Ferraz (Visconde do Bom Retiro) recomendando a construção de uma nova matriz, agora mais próxima da povoação, transferindo-se a sede da freguesia para o centro da Vila de Iguassu, uma vez que a matriz encontrava-se “...arruinada e não ter sido concluída...”


1857


Relatório da Presidência da Província nomeando uma comissão para angariar recursos com vistas à construção da nova Matriz da Piedade no centro da vila, “...visto como a matriz atual, além de se achar em quase completo estado de ruína, é situada em um lugar ermo e fora da povoação...”

Ainda em 1857, segundo Ribeiro, “...o relatório do vice-presidente informava que já havia sido adiantada uma quantia para reforma da Matriz de ‘Iguassu’ e seu novo cemitério ” .


1858


O Relatório da Presidência da Província desse ano menciona o início da construção da nova matriz. Esta, sim, representou a 4ª e definitiva construção (3ª reedificação), sendo que no mesmo local onde foram construídas as duas anteriores, ou seja, onde atualmente encontra-se a torre sineira.

Tendo por base suas amplas pesquisas que resultaram na excelente obra “Uma viagem a Iguassu através da cartografia”, Edson Ribeiro acredita que a 4ª e definitiva construção da igreja (3ª reedificação) tenha ocorrido em 1858. E por coincidência, no mesmo ano em que era inaugurada a Estrada de Ferro Dom Pedro II. As obras podem ter iniciado em 1856.

1888

No ano em que se daria a Abolição da Escravatura, seriam liberados recursos para reforma da Matriz de Iguassu. Ribeiro acredita que essa tenha sido a última intervenção na igreja, dando-lhe “...as formas que vemos nas fotos tiradas no início do século XX” .

Algumas considerações acerca do Sítio Histórico da antiga Freguesia de N. S. da Piedade de Iguassu

1. Monsenhor Pizarro, nas suas “Visitas Pastorais”, de 1794, nos informa que havia ao redor da Matriz da Piedade de Iguassu “31 casas térreas, 1 de sobrado (residência do vigário) e 1 com meio sobrado no sótão”, formando uma praça. Além disso, ele menciona que “...todas, à excessão de 3, são cobertas de telhas, e fazem perspectivas de um bonito arraial” .

2. A proposta de elaborarmos em parceria com o Instituto de Arqueologia Brasileira – IAB/Capão do Bispo um projeto de sondagem, prospecção e salvamento arqueológicos desse sítio histórico, tem como objetivos a descoberta e evidenciação do local exato onde fora edificada a capela primitiva da Piedade de Iguassu, além de identificarmos as sucessivas reconstruções da matriz e a dita praça com suas casas, mencionadas por Pizarro.

3. Outro fato que nos deixa intrigados e curiosos é o cemitério da Vila de Iguassu, dito “N. S. do Rosário”, que data de 1875. Antes os enterramentos da freguesia eram feitos na Igreja Matriz? Há uma pequena informação extraída das “Visitas Pastorais”, de Monsenhor Pizarro, que dá a entender que as irmandades seriam responsáveis pela maioria das sepulturas no seu interior, assim como era de costume durante todo o período colonial a inumação dentro das igrejas, conforme nos explica Rodrigues:

“As práticas de sepultamento eclesiástico foram trazidas e


instituídas nas terras brasileiras pelo colonizador, sendo


adotadas pela maioria da população até meados do século


XIX. Estiveram vinculadas à prática, cristã e ocidental,


cuja base era a familiaridade existente entre os vivos e seus


mortos, expressa na inumação no interior da comunidade,


mais propriamente dentro do espaço das igrejas. Esta


familiaridade assentava-se numa relação de vizinhança


cotidiana entre os habitantes e as sepulturas. Ao


freqüentarem as igrejas, pisavam, caminhavam, sentavam e


oravam sobre seus mortos, a todo o tempo sentindo seus


odores, expressando uma determinada sensibilidade olfativa


resultante da fé existente na sacralidade dos sepultamentos


eclesiásticos” .


Ruínas do cemitério e torre sineira - acervo Amigos do Patrimônio Cultural – setembro, 2010

Analisando a história da capela, e depois Matriz da Piedade, mesmo que com pouquíssimas informações, dá a entender que a mesma atravessou longos períodos aguardando por reparos ou reedificação. Como realizaram sepultamentos ao longo dos anos levando-se em conta a precária situação física da igreja? Acreditamos que tenha existido um cemitério para atender sua população, bem antes da construção do que hoje encontra-se em ruínas em Iguaçu Velha. Seguindo esta linha de raciocínio, Ribeiro traz ao nosso conhecimento que o Relatório da Vice Presidência da Província, de 1855, “...informava que já havia sido adiantada uma quantia para reforma da Matriz de ‘Iguassu’ e seu novo cemitério ” . Essa informação reforça nossa hipótese da existência de um cemitério anterior ao atual em ruínas. Seu local pode ter sido atrás da matriz ou no mesmo lugar do arruinado – N. S. do Rosário (1875). O “novo cemitério”, mencionado no Relatório de 1855, pode ser este.

4. Monsenhor Pizarro informa que a pia batismal da igreja fora feita de pedra na própria freguesia.

5. A Igreja de N. S. da Piedade de Iguassu fora edificada com frente para SSE e fundos para WNW.

6. Não sabemos em que ano a torre foi construída.

7. Com relação ao livro de Max Vasconcelos – “Vias Brasileiras de Comunicação” -, publicado pela primeira vez em 1927, traz na sua edição de 1947 (a 6ª e última) a informação de que da igreja só restava a torre sineira . Ribeiro conclui que as fotografias da igreja mostrando-a ainda de pé, mas em processo de arruinamento, devem ser anteriores ao ano de 1947. Quem é o autor das fotos? Onde estão os originais?

8. A população da Vila de Iguassu por volta de 1840 – cerca de 1.200 habitantes, segundo Daniel Kidder, citado por Rodrigues.

9. A população da Vila de Iguassu em 1858 – cerca de 2 mil habitantes, segundo Charles Ribeyrolles, citado por Rodrigues.

10. Ribeiro acredita que o “desaparecimento” de Iguassu deve-se à epidemia de Cólera, além da construção da E. F. Grão Pará (Barão de Mauá) em 1854 e de outros caminhos utilizado para escoar a produção da região de Serra Acima.

Torre sineira da Igreja de N. S. da Piedade do Iguassu-acervo do autor
 
NOTAS
 
[1] O grifo é nosso.

[2] Visitas Pastorais de monsenhor Pizarro, de 1794, PP. 49, 50. Apud. RIBEIRO, Edson. Uma Viagem a Iguassu através da cartografia. Duque de Caxias: Edição do autor, 2010, p. 92.

[3] Visitas Pastorais de monsenhor Pizarro, de 1794, PP. 49, 50. Apud. RIBEIRO, Edson. Uma Viagem a Iguassu através da cartografia. Duque de Caxias: Edição do autor, 2010, p. 93.
 
[4] Relatório do presidente da Província do Rio de Janeiro Luiz Pedreira do Couto Ferraz, 1853,p. 30. Apud. RIBEIRO, Edson. Uma Viagem a Iguassu através da cartografia. Duque de Caxias: Edição do autor, 2010, p. 94.

[5] Relatório da Presidência da Província do Rio de Janeiro de 1857,p. 84. Apud RIBEIRO, Edson. Uma Viagem a Iguassu através da cartografia. Duque de Caxias: Edição do autor, 2010, p. 95.

[6] O grifo é nosso.

[7] RIBEIRO, Edson. Uma Viagem a Iguassu através da cartografia. Duque de Caxias: Edição do autor, 2010, p. 95.

[8] RIBEIRO, Edson. Uma Viagem a Iguassu através da cartografia. Duque de Caxias: Edição do autor, 2010, p. 96.
 
[9] PIZARRO, Monsenhor. Visitas Pastorais de 1794. Apud. RIBEIRO, Edson. Uma Viagem a Iguassu através da cartografia. Duque de Caxias: Edição do autor, 2010, p. 93.

[10] Na Freguesia de N. S. da Piedade de Iguassu, segundo Monsenhor Pizarro, existiram quatro irmandades: do Santíssimo Sacramento (1751), de São Miguel (1757), de N. S. do Rosário dos Pretos (1730) e de N. S. da Conceição dos Homens Pardos (1782).

[11] RODRIGUES, Cláudia. Lugares dos mortos na cidade dos vivos: tradições e transformações fúnebres no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Cultura (Coleção Biblioteca Carioca,v. 43),1997, p. 21.

[12] O grifo é nosso.

[13] RIBEIRO, Edson. Uma Viagem a Iguassu através da cartografia. Duque de Caxias: Edição do autor, 2010, p. 95.

[14] Idem, p. 96.