Sítio histórico da sede da antiga Freguesia de Nossa Senhora da Piedade de Iguassu
Excursão a Iguaçu Velha, de Luciane Corrêa-blog do Colégio Gonçalves Dias-2008

São João de Meriti, 19 de junho de 2010





De: amigosdopatrimonio@gmail.com


Para: perfildabaixada@bol.com.br, perfilgabriel@ig.com.br



Prezado Gabriel Barbosa.




Neste sábado, dia 19/6, durante a realização de uma aula de campo de História da Baixada Fluminense ministrada pelo professor Antônio Lacerda, visitamos o sítio histórico da sede da antiga Freguesia de Nossa Senhora da Piedade de Iguassu, onde encontram-se as ruínas da Igreja de N. S. da Piedade de Iguassu (torre sineira) e do cemitério da antiga Vila de Iguassu. Constatamos que moradores (ou invasores) atearam fogo no mato próximo da torre sineira. Bem próximo à referida torre há uma grande cerca demarcando uma "propriedade" (invasão mesmo!), cujas terras próximas à cerca sofreram capina. Acontece que toda aquela área representa um grande sítio arqueológico histórico teoricamente sob proteção da legislação de patrimônio cultural (tombamento do perímetro da antiga Vila de Iguassu e Lei nº 3.924 de 1961, “que garante a proteção aos monumentos arqueológicos ou pré-históricos de quaisquer naturezas existentes no território nacional, colocando-os sob a guarda e proteção do Poder Público, e considerando os danos ao patrimônio arqueológico como crime contra o Patrimônio Nacional”). Recomendamos, portanto, como medida preventiva, impedir que novas invasões ocorram; efetuar a limpeza do mato existente no local (devidamente monitorada, pois fragmentos como louças, vidros, cerâmicas tupi-guarani ou neo-colonial, porcelana etc. podem vir a aparecer na superfície do terreno), conforme conversamos anteriormente; sugerimos também que sejam aqueles bens culturais (torre sineira e ruínas do antigo cemitério) protegidos por alguma espécie de cerca, e a realização de um projeto de prospecção e salvamento arqueológicos.



Segue abaixo um resumo da legislação de patrimônio cultural.

 
Patrimônio Arqueológico

O patrimônio arqueológico brasileiro é bem público sob a tutela da União, assim reconhecido e protegido pela legislação, sendo seu gestor o Iphan - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

Abaixo facilitamos o acesso à legislação de proteção do patrimônio arqueológico, recomendando sua leitura atenta por parte de profissionais, estudantes e interessados em geral.

O Decreto-Lei n. 15 de 30 de novembro de 1937 define o patrimônio histórico e artístico nacional e dispõe sobre sua proteção, relacionando as atribuições do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.


A Lei nº 3.924 de 1961 garante a proteção aos monumentos arqueológicos ou pré-históricos de quaisquer naturezas existentes no território nacional, colocando-os sob a guarda e proteção do Poder Público, e considerando os danos ao patrimônio arqueológico como crime contra o Patrimônio Nacional.

A Portaria nº 7 do IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, de 1988, estabelece as normas e procedimentos a serem seguidos para o desenvolvimento da pesquisa arqueológica.

A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, também possui artigos e capítulos específicos voltados à definição de patrimônio cultural e arqueológico, dispondo sobre sua tutela e em especial sobre as atribuições da União, Estados e Municípios.

Arqueologia de Contrato ou Salvamento


A partir da década de 1980, o patrimônio arqueológico passou a ser contemplado em Estudos de Impacto Ambiental e respectivos relatórios de impacto ambiental. A necessidade de identificar, salvaguardar e proteger o patrimônio arqueológico dos impactos negativos causados por grandes obras de infra-estrutura acabou por criar uma nova frente de atuação para arqueólogos no Brasil, a exemplo do que já vinha acontecendo em outros países. A atuação de arqueólogos nesses grandes projetos tem se pautado pelo disposto na resolução 01/86 do CONAMA , que estabelece que os sítios e monumentos arqueológicos devem ser objeto de consideração para a emissão das licenças Prévia, de Instalação e Operação de empreendimentos que causem impacto significativo ao meio ambiente, assim como na Portaria nº 230 do IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, de 17 de dezembro de 2002, que estabelece diretrizes a serem seguidas para a compatibilização da obtenção de licenças ambientais com a salvaguarda do patrimônio arqueológico. Ver também: Portaria IPHAN n. 28, de 31 de janeiro de 2003 , que determina a obrigatoriedade de estudos arqueológicos em reservatórios de hidrelétricas no momento da renovação de licença de operação.
 
 

Amor e tragédia: história de um senhor 
 de escravos na Vila de Iguassu


Guilherme Peres
Amigos do Patrimônio Cultural






CLARINDO na torre da Igreja de N. S. da Piedade de Iguassu-Foto: Antônio LACERDA

O escritor francês Charles Expilly, desembarcou no Rio de Janeiro em 1853. Aqui chegou em busca de fortuna e, como tantos outros viajantes, veio “fazer a América”. “Descendente de uma família de magistrados, terminou seus estudos de humanidades no Liceu Charlemagne, estudou Direito em Aix e “serviu ao rei”, como então se dizia de quem prestava serviço militar, num regimento de lanceiros”, diz Américo Jacobina Lacombe, prefaciando seu livro editado no Brasil.

Acompanhado de sua esposa Massol d´Audre, que o próprio Expilly dizia ter nascida no Brasil, estudado na França, na Inglaterra, com diploma universitário e experiência na direção de um colégio feminino na Bélgica, tratou logo de apresentar as credenciais de madame Expilly ao Imperador D. Pedro II, oferecendo a assinatura de um contrato, em que esta se propunha ser professora da jovem princesa Imperial. Bem recebidos no palácio, foram convidados a aguardarem durante algum tempo, para o “estudo” do documento proposto.

Torre da Igreja de N. S. da Piedade de Iguassu-março,2010-CLARINDO


O Imperador escreveu ao representante do Brasil em Paris, pedindo informações sobre casal, porém, “estas não confirmaram as declarações do jovem aventureiro”, e em visitas posteriores feitas ao palácio, Expilly “sentiu certo resfriamento na colhida do monarca”.

Frustrado em suas intenções, o francês voltou-se para a instalação de uma escola Normal para a esposa e, mais tarde, uma indústria de fósforo, iniciativas que redundaram em completo fracasso. Esses sucessivos transtornos “resultaram em um sentimento de terrível má vontade para com o país que ele elegera para repartir os lucros de seu talento literário e de sua capacidade de ação. Todas as suas produções vem tisnadas por um espírito de vingança em relação a suposta pátria de sua esposa”.

Entretanto, nem tudo estava “perdido” nessa nação, para o orgulhoso gaulês. Ao referir-se a população negra ou mestiça, registrou em seu livro “Mulheres e Costumes do Brasil”, além de elogios, sua superioridade: “As brancas nas colônias são fisicamente inferiores às crioulas, principalmente as negras minas. Ainda hoje não tenho em vista se não a beleza das formas... o homem que habita a zona equatorial, não pode recusar a sua administração por essas soberbas criaturas, cujo porte esta cheio dessa majestade radiosa que o elogio atribui às rainhas e a poesia, às deusas”.

Iguassu-Cemitério, 2007-wikimedia


NARRATIVA



Na história da inter-relação racial no Brasil estão contidos inúmeros episódios que confirmam o rompimento do preconceito, proveniente de um regime de economia escravocrata e patriarcal. "A miscigenação que largamente se praticou aqui" diz Gilberto Freire, "corrigiu a distância social que de outro modo teria conservado enorme distância entre a casa-grande e a senzala". O latifúndio extremou a sociedade entre senhores e escravos, contrariado pelos efeitos da miscigenação: "A índia e a negra-mina, a princípio, depois a mulata e a cabrocha, tornaram-se concubinas e até esposas legítimas dos senhores brancos" diz mestre Freire.

Iguaçu Velha-Stefano_rj


Em seu livro citado acima, publicado na França após sua volta do Brasil, Charles Expilly continua revelando não só grande atração pelas brasileiras negras e mestiças, como também divulga esse sentimento, mostrado pelos senhores de engenho, conforme a narração de um episódio acontecido nas proximidades da Vila de Iguassú, em que um fazendeiro, dono de escravos chamado Soares, casado e pai de dois filhos, apaixonou-se perdidamente por sua escrava denominada Calixta, rapariga negra de 19 anos. Seus filhos, Casimiro e José, já rapazes, também gostavam da jovem, mas não possuíam capital para comprar ao pai, a sua liberdade.

À mãe de Calixta, o Sr. Soares havia prometido dar a sua liberdade, assim que essa alcançasse a maturidade. A promessa, porém, foi “esquecida”, sem que houvesse uma explicação. Na senzala, a cerva cresceu sabendo que era bonita, tornando-se vaidosa ao ver-se cercada de elogios. Ardilosa, recusava habilmente as propostas de seus pretendentes, esperando as promessas feitas por seu senhor.

“Calixta jurou à velha negra que obteria essa liberdade, mesmo que acarretasse a ruína da família do fazendeiro”, incentivando a rivalidade dos dois irmãos que aspiravam “a exclusividade da posse da escrava. A mulata, fiel ao papel que se impôs amável com ambos, desespera-os igualmente com respostas indecisas”.

- Meu amor é orgulhoso. Tem horror ao cativeiro. Só me entregarei a quem me der liberdade.

“Casimiro e José nada possuem. Não poderão comprar a escrava ao pai”. Louco de paixão, José, o irmão mais velho, passa ameaçar a possuí-la à força”.

– Esta noite, disse ele, minha vontade vencerá o teu desdém.

Casimiro ficou assustado com os planos do irmão, quando Calixta também lhe confidenciou um pedido de proteção.

Ao saber da revelação, José dirigiu-se a Casimiro interpelando-o e fazendo-o desistir de sua intenção. As cartas estavam lançadas e a rapariga a ele escolhera, dizia aquele.

“À noite, Casimiro deveria descer o rio Iguaçu. Ia receber no Rio de Janeiro o pagamento da última colheita de café expedida por seu pai a um negociante inglês”. Este, porem, temeu pela sorte da mulata durante sua ausência, aproximou-se de Calixta e prepôs-lhe fugirem juntos. De posse do dinheiro do pai, poderiam viajar para longe e daria sua liberdade.

Esta, consente em acompanhá-lo e, no momento marcado à noite, aproximam-se do cais. Á luz de candeeiros fumarentos bailavam sombras de barcos entre o alarido de tropeiros, que carregavam as últimas cargas de café do dia. A embarcação ia partir.

Súbito, ecoou um tiro e um grito: - maldito! Casimiro assustado agarra sua amada e se precipitam para o embarque. Naquele momento é agarrado por José ainda nas pedras do porto e os dois se engalfinham às pancadas. Casimiro saca uma faca e José agita um fuzil tentando atingi-lo. Calixta tudo assiste à margem da embarcação.

“- Perjuro! Ladrão! Homem sem fé! Gritava o mais velho. Tua traição não servirá senão para cobrir-te de vergonha. Esta rapariga pertence-me, e prefiro matar-te como um cão a verte de posse dela”.

“_Covarde! Assassino! Exclamava Casimiro. É a mim que Calixta ama. Tenho os direitos de um amor correspondido, e não de um erro ao acaso. Esses direitos defendê-lo-ei até a morte”.

Temendo uma tragédia, Calixta afastou-se dos contendores ocultando-se nas sombras, quando a um sinal, o barco avisou que ia partir, Casimiro pulou para seu interior lembrando-se do dinheiro que tinha que receber para seu pai na capital do Império.

“-Lembre-se que me alvejaste. Ajustaremos as contas quando eu voltar!”, e desapareceu na penumbra do rio, com o ruído dos remos a agitarem as águas.


Igreja de N. S. da Piedade de Iguassu-blog da Paróquia de N. S. da Conceição de Tinguá


A REAÇÃO


Um tropel de cavalos irrompe das sombras acompanhado de escravos armados. Era o Senhor Soares que chegou encolerizado. Recriminou José e mandou açoitar Calixta com vinte chibatadas.

Seu destino estava selado. Dois dias depois foi ao porto e negociou a venda da serva com um traficante de escravos. O novo senhor foi buscá-la. Seu estado físico era desolador. Deitada num canto do interior da senzala sua mãe aplicava compressas com ervas em seu corpo. Ao vê-lo entrar, Calixta com dificuldade ficou de pé, estava pronta para acompanhar seu mais recente amo. Entretanto, sua dignidade de mulher ditava-lhe com orgulho o desejo de vingança.

“Casimiro chegou a tempo de complicar ainda mais a situação. Os dois irmãos desesperados desconheciam os menores sentimentos”. Após prestar contas do dinheiro ao pai, os dois resolveram “opor-se a partida de Calixta”.

“O senhor Soares viu-se, obrigado, por sua vez, a empregar a força para fazer-se respeitar. Atirou por terra, ele mesmo, o mais moço dos filhos, enquanto os escravos subjugavam o mais velho”.

“A mulata, impassível como estivera antes, à beira do rio, não deu uma palavra. Pediu unicamente para beijar sua mãe, e este supremo consolo lhe foi recusado”.

Dirigindo-se ao senhor Soares, esta exclamou: - o senhor me mandou castigar e vendeu-me como um animal, agora se recusa ao meu último consolo que é o colo de minha mãe! O senhor será castigado por Deus!

“-Cadela! Esbravejou o velho Soares, levantando a mão para a escrava”.

Assistindo todo esse drama estavam os dois irmãos, seguros com mãos de ferro pelos escravos do senhor.

“Calixta deitou a Casimiro um longo olhar de tristeza e suplicou com voz trêmula: Senhor esqueça-me. Quanto a mim não o esquecerei nunca, porque vejo que foi quem mais me amou. Depois de ter lançado essa seta envenenada ao coração do jovem, a pérfida criatura tomou a barca onde a esperava o novo senhor”.



Ruínas da Antiga Vila de Iguaçu-Cemoba



TRAGÉDIA


A partir daquele momento, a casa da fazenda tornou-se um inferno; os irmãos e o pai não se falavam. A noite na hora de dormirem, ficavam entrincheirados com os quartos trancados a cadeados. “O senhor Soares fazia guardar a sua porta por um escravo armado”.

Lembrando-se das palavras de Calixta, sua mãe, Constança, presenciava o que seria uma maldição lançada à essa família. “Sobre aquele lar recairia a ruína, a desolação e a morte”.

Deixando sua residência, onde só se transpirava ódio, a senhora Soares mudou-se para o Rio de Janeiro levando Casimiro, o seu filho mais novo, ficando na fazenda José com seu pai.

“Um ano depois da partida da mulata, uma tremenda catástrofe recaiu sobre a família Soares: o fazendeiro e seu filho morreram envenenados. O processo seguido pela justiça não trouxe nenhuma luz sobre esse drama colonial. Constataram-se sem dificuldades os desacordos íntimos que agitavam a família. Mas não se podia acusar José, que era uma das vítimas, nem a senhora nem Casimiro, que viviam longe da fazenda”.

A propriedade ficou entregue ao abandono com a dispersão e ociosidade dos escravos. O capim alto se misturava ao canavial. Sob um telheiro, o bagaço da cana salpicada de moscas, se espalhava em torno do engenho, adormecido no silêncio.

“Casimiro entrou tranquilamente na posse da herança paterna. Seu primeiro ato de proprietário foi dar liberdade à velha Constança. Deu-lhe ainda, como morada, um pequeno barracão mobiliado. Depois partiu para o Rio, na intenção de reaver aquela que jamais pudera esquecer”.

Localizou o traficante que negociara Calixta com seu Soares, mas, esta já não lhe pertencia, fora vendida para um senhor de engenho da província de São Paulo. Viajou para Santos e em seguida aquela cidade. “Mal chegara, encaminhou-se ao engenho que lhe fora indicado, onde encontrou uma família na mais profunda desolação”

O novo senhor e seu filho haviam se apaixonado por Calixta, que em troca de seu amor reivindicava a liberdade. O jovem desesperado falsificou uma “letra” com a assinatura do pai, a fim de obter recursos para a compra da mulata. Além desse crime, aproveitou-se dos pais ausentes, arrombando sua escrivaninha, tirando 1 a 2 contos de réis, e jóias do cofre de sua mãe.

Calixta fugiu com o rapaz para Santos, onde viajaram para o Rio de Janeiro. Pondo-se na captura de seu filho único, do dinheiro, das jóias e da bela mulata, o novo senhor “jurou meter na prisão, caso não conseguisse fazê-la voltar ao cativeiro”.

“Todos esses detalhes, fornecidos a Casemiro pela mãe do rapaz, foram golpes fortíssimos para o seu coração. Havia três meses que Calixta abandonara a província de São Paulo e nunca mais se soubera dela no engenho dos Órgãos”.

A viajem para o Rio foi imediata. Em seu coração repleto de ciúmes planejava reembolsar o suposto proprietário e dar a liberdade a sua amada Não foi difícil encontrar a chácara que ela residia. Estava vazia. A notícia que recebeu, é que ela havia partido para a Europa com um comerciante lusitano.

“Casimiro chorou amargamente”:

- Ela nem sabe sequer o que fiz para a conquistar! Murmurou desesperado. O paulista roubou por sua causa, mas eu...eu...eu Ah! A miserável! Matou-me !”


Vila de Iguaçu-Mapa (1837)


EPÍLOGO


Na fazenda abandonada, a velha Constança alimentava as esperanças de ver um dia Calixta voltar. Mantinha sua humilde casinha sempre limpa, enfeitada de flores na janela. Passava o tempo a vagar pela redondeza e a chamar-lhe o nome. Acreditava ser perseguida por espíritos do fazendeiro e de seu filho José, denunciando em altos gritos, que ambos foram assassinados.

Alertada por um vizinho, a justiça bateu-lhe à porta. Sabedora dessa visita antecipou-se no tresloucado gesto de beber veneno. Contorcendo-se em dores a negra revelou para os oficiais, que havia envenenado o Sr. Soares e seu filho José, a mando de Casimiro:

“O senhor prometeu-me que quando fosse o único dono da fazenda, compraria Calixta, trá-la-ia para casa e nos daria a ambas a liberdade. Ora, eu que já tinha sido enganada pelo senhor Soares, e não podia viver longe da minha filha, pus o meu ódio e o meu amor a serviço do senhor Casimiro. Mas agora Calixta me abandonou por isto nada mais tenho a fazer neste mundo. Minha morte, reconheço, é o justo castigo do meu crime. Espero que Deus me perdoe, pelo meu arrependimento e pelas torturas por que estou passando. Antes de comparecer perante Deus, declaro, pela última vez , que agi segundo as instigações do senhor Casimiro. E expirou”.

Sem essa testemunha, o inquérito estava enfraquecido e Casimiro foi absolvido por falta de provas contundentes, com a confissão apenas de uma negra escrava, saudosa pelo abandono da filha.

Após o sofrimento de acompanhar o processo, a senhora Soares morreu deprimida de tanta infelicidade que se abateu sobre seu lar, em razão de seu marido não ter cumprido a promessa de dar liberdade a escrava Calixta que ele prometera.

Casimiro deixou a prisão de cabelos encanecidos. Faltava-lhe também a razão. Foi encaminhado “para o manicômio de Botafogo”.

“A vingança da escrava Calixta causou efeitos terríveis. Produziu uma dupla paixão incestuosa, um parricida e fratricida, um terceiro envenenamento, um estelionato e um roubo por arrombamento, a morte de uma mãe e afinal, a queda de um homem, no momento preciso em que desaparecia a sua mocidade. Dois lares desolados, seis vítimas, três por intoxicação, uma pela desonra, a quinta pela vergonha e a sexta pela loucura”, finaliza Charles Expilly, descrevendo essa “tragédia grega” acontecida no interior dos trópicos da América do Sul, e inserida nos anais históricos da Vila de Iguassú.


Vila de Iguaçu-década de 1970-acervo do Arquivo Histórico da Diocese de Nova Iguaçu


FONTE BIBLIOGRÁFICA




EXPILLY, Jean Charles Marie – “Mulheres e Costumes do Brasil”

Cia. Editora Nacional &

Instituto Nacional do Livro - MEC- 1977