Entrevista Ney Alberto Gonçalves de Barros
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CENTRO DE MEMÓRIA ORAL DA BAIXADA FLUMINENSE
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Barros, Ney Alberto Gonçalves de. Depoimento, 2003. Nilópolis – CEMOBA – Fluminense
Ney Alberto Gonçalves de Barros (depoimento em 10/01/2003)
Nilópolis, 2003
Entrevista do Professor Ney Alberto G. de Barros.
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SUMÁRIO
O gosto pela História. A paixão pelo conhecimento da História da Baixada Fluminense. As primeiras pesquisas. A importância cultural da região. Os índios Jacutingas. Toponímia da região. A importância da história oral. A vila de Iguaçu. Os trabalhos com Waldick Pereira. As pesquisas nas regiões de Gericinó e Tinguá. Os políticos da Baixada.
CENTRO DE MEMÓRIA ORAL DA BAIXADA FLUMINENSE
Entrevista- Ney Alberto Gonçalves de Barros- Nova Iguaçu
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C.E. - Entrevista do professor Ney Alberto, de Nova Iguaçu, concedida ao Centro de Memória Oral da Baixada Fluminense em 10 de janeiro de 2003.
Ney – Ney Alberto Gonçalves de Barros, nascido a 27 de setembro de 1940 no hospital de Iguaçu. Atualmente estou dando continuidade a algumas pesquisas. Sou formado em história e venho reunindo, desde 1954, fotografias antigas, mapas, livros e sempre anotando em fichas as informações relativas à geopolítica das baixadas, da baixada fluminense e da baixada de sepetiba. Em 1954, eu vou explicar agora, de certa forma, como eu comecei a me interessar por geo-história. Nós formamos um grupo para reunir as melhores poesias de amor. Eu estava no curso ginasial, peguei uma série de poemas e um me chamou a atenção de maneira muito interessante. Era um poema de Tomás Antônio Gonzaga, escreveu quando estava preso esse poema, e ele dizia o seguinte, num dos trechos:
“Meu sonoro passarinho. Sabes do meu tormento. E queres dar-me cantando
Um doce contentamento. Procuro o Porto da Estrela...”
Eu já tinha ouvido falar no Porto da Estrela, mas nunca tinha feito uma excursão até esse local e resolvi visitar o Porto da Estrela. No Porto da Estrela terminava o caminho do ouro, chamado variante do Proença, depois eu vim descobrir que o nome era esse, e resolvi ir até as ruínas. O Porto ainda estava com as ruínas visíveis e eu fiz umas escavações no pé de um monte, que tinha uma parte de pedra e cal, e achei uma chave muito grande. E nesse instante, eu passei a me interessar, ao mesmo tempo por geografia, por história e por arquitetura. A partir de então, esses mesmos rapazes que estavam comigo nesse movimento para reunir poesia de amor, todos nós fomos deslocados para fazer uma excursão ao maciço de Tinguá, serra do mar ao maciço de Gericinó, aqui que faz limite oeste com o município de Mesquita, que é conhecido popularmente por serra de Madureira, mas o nome primitivo era mesmo serra de Gericinó evidentemente para conseguir informações, nos procurávamos moradores antigos do local, lavradores pessoas que tinham uma vidinha, caçadores, madeiras e fomos reunindo informações de onde existiam ruínas no meio da mata no alto da serra, no pé da serra. E a partir daí nos resolvemos criar, mais tarde o Instituto Histórico e Geográfico de Nova Iguaçu. Em 62 e 63 o instituto já estava funcionando, e aí já apareceram novos companheiros, entre eles o Waldick Pereira. E a história de Nova Iguaçu, a história da baixada eu posso afirmar sem medo de errar que existem em termos de acervo e reunião de fontes, direto e indireto, dois momentos: antes do Instituto Histórico e Geográfico e antes da Arcádia Iguaçuana de Letras que foi um movimento intelectual surgido em Nova Iguaçu mais voltada para a literatura depois desses dois momentos. Então a história local em termos de acervo tem dois momentos: antes de 1954, antes de 1956, antes 1963 e depois dessas datas porque nos associamos nossa Arcádia Iguaçuana de Letras, evidentemente que meu arquivo particular foi chamado “Arquivo Ney Alberto”, também tinha muitas coisas da história de Nova Iguaçu por causa das fotografias que eu colecionava desde a fundação do Ginásio Leopoldo, hoje Colégio Leopoldo, e muitas fotografias foram tiradas nessas expedições e eu pretendo ainda reunir todo esse material, tirar cópias e fornecer para o Centro de Memória Oral. De modo que eu acho que na verdade muitas coisas ainda não chegaram ao domínio público por falta de tempo, por falta... a gente tem que sobreviver trabalhar aqui, trabalhar ali. Mas eu tenho certeza que futuramente nós iremos ampliar essas informações por que o material do Instituto Histórico e meu, particular, de meu arquivo já estão na ONG (Onda Verde) em Tinguá, na prefeitura de Nova Iguaçu na SEMUAM, Secretária Municipal de Urbanismo e Meio Ambiente, onde eu tenho uma salinha que guardo esse material. A UNIG me ofereceu uma sala onde eu guardo os documentos antigos e os livros antigos, relatórios do tempo da monarquia, do tempo dos antigos governos da província fluminense estão agora no Instituto de Pesquisa e Análise Histórica, em São João de Meriti, no IPAHB que fica no antigo colégio Meritiense, porque se a gente guardar muita coisa, a gente morre, os herdeiros vão jogar no lixo, vão vender por qualquer dinheiro. E o certo quando você tem uma alguma documentação valiosa é encaminha-la para uma instituição séria que vai dar continuidade, não só a preservação desse material, como também para sua divulgação, exposição etc.
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Eu acredito que a gente, não esquecendo o passado, e o passado cultural é muito amplo, mas só com relação aos documentos que foram passados oralmente de pai para filho, você vai mostrando que você pode buscar no passado, muitos ensinamentos. Vou dar meu exemplo:
Os índios que viviam nessa região aqui, notadamente, Caxias, Nilópolis, São João, Belford Roxo, Nova Iguaçu e Mesquita eram os índios Jacutingas. E recentemente eu paguei a palavra “piaçava”, e numa doação feita ao Brás Cubas, que, na verdade ele não veio assumir essa sesmaria, os limites dessas sesmarias corriam pelo rio Meriti e terminavam, essa propriedade, na “piaçava” dos índios Jacutingas. Eu não tinha noção de que era uma “piaçava”?
É uma plantinha pequenininha, minúscula? Igual ao sapê? E você, além de conseguir a informação, você tem que mergulhar na pesquisa de cada palavra.
Piaçava era um nome que se dava a uma palmeira, que é de uma palmeira, que se tira a “piaçava”. E eu me perguntava: Será que a cobertura das casas indígenas era com sapê, era com “piaçava”? Era com a folha de palmeira? Porque na verdade, através da tradição oral, do documento escrito, você pode ser levado a conversar com uma pessoa e pegar uma informação. Aí caí na tradição oral. E da tradição oral você pode fechar a conexão de informações. Fui saber, por exemplo, conversando com caçadores e mateiros que o Gericinó é também uma palmeira, tanto que durante muito tempo chamava o Brasil de Pindorama, palmeira na língua indígena é “pindoba”. Então eu acredito que na verdade, você tem que conversar muito com moradores antigos, principalmente com caipira. O caipira é de “caa”, mato, “pira”, fogo, caipira é o que bota fogo no mato.
E nessas pesquisas voltadas para a arqueologia nos acabamos descobrindo, por informações orais, que não sei quem foi fazer um poço e achou uma cerâmica indígena. Que foi fazer um alicerce e achou uma pedra a semelhança de um machado indígena. Procurei um folclorista chamado Francisco Manoel Brandão e ele me dizia o seguinte: quando construíram a Dutra, trabalho de terraplanagem aqui no alto da Jacutinga, que a Dutra desfigurou o montanhismo baixo da região.
Então a informação que eu tive do doutor Brandão é de que os tratores, as máquinas, as escavadeiras... sei lá os nomes das maquinas de 1950, é que muitas vezes apareciam na ponta da lâmina, retirando a terra, desmanchando os montes, vasos indígenas. Mas as firmas não poderiam interromper os trabalhos porque eles queriam coincidir a inauguração da Via Dutra com a copa de 1950, porque o maracanã foi construído mais o menos nesse período, também. E outra informação oral que eu obtive foi com Antônio de Freitas Quintela, que instalou uma olaria aqui em Rocha Sobrinho, perto do Banco de Areia chamada Olaria Gigante que, quando eles tiravam barro do morro para fazer tijolos e telhas, que eles encontravam muitas peças indígenas, geralmente cerâmicas. Então, através da informação oral agente vai montando uma construção mental e depois tem até que passar para o papel, passar para os estudantes das escolas, por exemplo, dizemos que quando uma criança descobrir num alicerce fazendo um poço ou uma construção qualquer um objeto que ele não identifique de imediato por ser um objeto muito antigo, que entre em contato com instituições culturais porque, às vezes a partir daqueles vestígios ele está descobrindo um tesouro importante ou um documento artesanal importante dos índios. Porque nos sabemos muito pouco dos indígenas que nessa região que, por exemplo, tinha as “paúnas”, palavra que deu origem à “Pavuna”, que é “água preta”. Em Deodoro tinha os “Sapopem”, que é o nome de uma planta que dá em brejo. Do lado da baixada de Sepetiba, por exemplo, em Itaguaí e Japerí, já são também nomes que vem de outras aldeamentos indígenas como “tanguá” que deu Itaguaí, “Aguaperí” deu Japerí. Aqui pro lado de Sepetiba tem o Sepetil –a, mas todos eram Tupinambás, eram apelidos de tamoios. Principalmente na orla da Guanabara voltado para o atual município de Rio de Janeiro.
Então nós sabemos, como eu dizia, muito pouco a respeito desses indígenas. Com certeza nós temos muito que aprender com eles porque através dos nomes eles nos revelam fenômenos que ele observaram. Por exemplo, Irajá, que é “lugar onde se dá o mel”, Guanabara que quer dizer “mar em forma de seio”. Tinguá, que quer dizer “nariz empinado”. Muriqui, que é nome de macaco. Paracambi, que é nome de outro tipo de macaco. Gericinó que é o cacho de coco do catolé. Então nós precisamos, também, além de colher cada vez mais informações, reunir glossário, essas palavras, verbetes, fazer um pequeno dicionário, vocabulário. Porque agente repete Marapicu, repete Cabuçu repete Gericinó, mas não sabe aonde o índio foi buscar inspiração para dar essas denominações. E muitos dessas denominações vão nos ensinar muito da geologia, da hidrografia, da botânica da zoologia. Eu acho fundamental que através do bate papo com pessoas antigas descentes desses habitantes antigos, nós teríamos um universo denso de informações. E que depois faríamos dissertação e poderíamos produzir livros, folhetos, etc. De modo que eu acho essa vinculação importante, a exemplo do que aconteceu com a música. A música erudita dita clássica, sempre bebeu na música popular. E a música popular, bebe também, mata sua sede na música clássica, na música erudita.
Então, com relação a pesquisa em história, através das tradições orais, a gente sabe, perfeitamente, que uma dita cultura acadêmica bebe na informação popular e vice-versa. A exemplo do que aconteceu com a palavra Maxambomba. Nos documentos escritos por falta dessa pesquisa, o pesquisador não pode logo de imediato soltar a pesquisa sobre a pena de estar repetindo um erro, e o outro repete o erro dele. E fica igual ao alpinista, quando um desabar cai todo mundo junto.
Então sempre li que Maxambomba podia ser um termo de origem africana. Deram várias versões eu não gosto de dar as versões erradas por que também eu estou reproduzindo erros. Mas ouvi uma música no interior de Salvador que falava de Maxambomba. Eu ouvi falar de Maxambomba aqui no Rio de Janeiro e toda a vez que se falava em Maxambomba se falava em “carrinho”, dando conotação a veiculo, carro. E, mais tarde, eu fui preso, uma vez, fui preso outras vezes, e o livro que eu levava para a prisão que não tinha capa vermelha era um dicionário. Lendo um dicionário descobri que Maxambomba é uma palavra que significa “carro de boi”. É uma palavra, “amaxa” é carro e vez do grego. Agora como essa palavra chegou ao Brasil? Será que veio da África? Será que da Grécia foi para o Egito? Que dizer, Maxambomba, a final de contas, toda vez que você ver, ouvir essa palavra ela esta ligada a veiculo, a carro. Ora, em 1692 se tinha algum carro na região só podia ser carro de boi, né, porque a revolução industrial só acontece bem mais tarde só em 1815 depois de do com Congresso de Viena a cultura tecnológica da Inglaterra vai se espalhar pelo mundo. Se em 1792 tem um lugar chamado Maxambomba e se refere a carro, esse Maxambomba só pode ser carro de boi.
Outra coisa interessante que a tradição oral nos oferece se você, por exemplo, gosta de arqueologia que a pessoa quando vai fazer um acampamento ele tem que estar com uma visão periférica para, não só pesquisar o que interessa para ele, mas também o que interessa a outras áreas de pesquisa. Porque às vezes o sujeito é só historiador, mas ele pode trazer uma pedra, pode perguntar a respeito do folclore, pode perguntar a respeito de botânica. E quando voltar do acampamento passa a informação para os colegas, porque você não pode compor uma equipe de acampamento que tenha um biólogo, um botânico, um geólogo.
Então você tem que fazer um papel polivalente. Então eu perguntava assim pro caipira, não estou falando caipira no sentido pejorativo, estou falando no sentido de você buscar informações importantes com ele. Então, você perguntara assim: Escuta, você já encontrou aqui na lavoura algum machado indígena? Às vezes na cabeça da pessoa que esta sendo perguntada, ele cria mentalmente um machado, pensa num cabo, pensa num ferro de machado etc. E, mais tarde, conversando com esse mesmo toponista, doutor Manoel Brandão ele dizia o seguinte: quando você for perguntar você pergunta se já encontraram alguma pedra diferente, se já encontraram pedra de raio.
Porque na tradição oral o machado, o lítico, a pedra cortante que o índio trabalhava no interior eles chamam de “pedra de raio”. Eles acham que vem na ponta de raio e entra na terra. Se você for perguntar você encontrou uma “pedra de raio” automaticamente ele vai dizer “sim” ou “não”, ah, eu tenho, achei, guardei. Mas, se você perguntar machado já fica formando na mentalidade de quem você perguntou, um machado que agende tem hoje. Então, só através da informação oral, é lógico que você tem que selecionar, pra saber se ela está vindo de acordo com a verdade. Mas o pesquisador ele sempre viaja do documento escrito para a tradução oral e vice-versa para poder fazer um emaranhado de informação pra depois numa linguagem didática, pedagógica ele passar para os leitores, para os ouvintes, etc.
De modo o que agente tem que fazer, principalmente na área do folclore, porque o folclore é quase todo baseado na tradição oral, e felizmente, as escolas estão divulgando muito isso.
Outro exemplo de tradição oral. Eu tive que me esconder uma temporada no interior de Aparecida do Norte e fui para um bairro chamado Putin às margens do rio Paraíba do Sul, margem esquerda. E era uma região de brejo no pé da Serra da Mantiqueira e numa noite um rapaz ia de bicicleta pro sítio dele e viu um tronco na trilha e ele saltou da bicicleta, levantou a bicicleta pra ultrapassar o troco e não era um tronco era um jacaré fêmea. Só que quando ele me contou que havia matado um jacaré, fêmea, com um mourão que ele havia arrancado de uma cerca de arame, ele chegou pra mim e disse assim: “professor, matei um cuca”. E a cuca na minha cabeça era só das informações de Monteiro Lobato, do sítio do pica-pau amarelo. E ele me disse o seguinte, que a cuca é a fêmea do jacaré. Só que o jacaré ele chamava de ururau e que dizia com certeza, segundo os antigos da região, que a cuca era uma palavra de origem africana. A cuca seria a fêmea do ururau, seria uma jacaré fêmea, a cuca, e,o ururau, o jacaré macho. Como o rio Paraíba do Sul vai desaguar lá em Campos, mais tarde, indo a Campos eu ouvi falar m ururau que inclusive esta naquele livro “O coronel e o lobisomem”, do Antônio Cândido Carvalho. Então a gente ouve falar em cuca, cuca e pensa que Monteiro Lobato que inventou, pelo contrário Monteiro Lobato também conversa o pessoal do interior, batia papo. Eu acho que muito da obra de Monteiro Lobato tem muito a ver, evidentemente, com a tradição oral. E a cuca é a fêmea do ururau, são tipos de jacaré. Ururau é palavra de origem tupi e a cuca é palavra de origem africana. Tem até naquela canção “dorme neném que a cuca vem pegar”. E Monteiro Lobato conseguiu trazer isso para a literatura infantil, e hoje a cuca esta até na televisão.
C E. - Ney, como você vê a participação do poder público em apoiar a cultura? No caso específico da Baixada Fluminense, temos dois momentos aí, antes e depois da fusão. Como se comportaram os poderes constituídos na questão da história da baixada?
Ney – Em 1976, nós fizemos um encontro, em Nova Iguaçu, com o pessoal do Conselho Estadual de Cultura. Os municípios, na verdade, deveriam ter os seus conselhos municipais, porque o conselho, ele reúne representantes de várias atividades culturais: artes plásticas, folclore, literatura, poesias, música popular, etc. E o antigo estado do Rio de Janeiro, quer dizer, antes da capital do Brasil, o Distrito Federal ter ido pra Brasília, o estado do Rio era muito ativo nessa parte, através do Conselho Estadual de Cultura, tanto que eles souberam que eu tinha feito uma pesquisa aqui no Iguaçu Velho ou Iguaçu Velha que foi a primeira capital, primeira sede administrativa do nosso município, quer dizer, desse município antigo que era Iguassú, que pegava Caxias, Nilópolis, São João, Mesquita, Queimados, Belford Roxo. E o Conselho de Cultura só reclamava de uma coisa: a falta de verba e falta de recursos do governo para desenvolver suas atividades. E eu mostrei em uma palestra que eu fiz lá, a respeito de que a Baixada de Fluminense e também a Baixada de Sepetiba, por que no Estado do Rio nós temos quatro Baixadas: a Baixada de Campos dos Goytacases, lá Campos no norte, a Baixada de Araruama, a Baixada da Guanabara que é a mesma baixada do Rio de Janeiro, que é a mesma Baixada Fluminense, e a Baixa de Sepetiba, por exemplo, o Guandu ele já corre pra Baixada de Sepetiba, então a Baixada Fluminense seriam todas essas áreas onde os rios correm para a Baía de Guanabara, ou Baía do Rio de Janeiro, ou Baía Fluminense, é uma palavra que vem de rio dos mapas cientistas em flúmen que a designação portuguesa é Baía de Guanabara, Rio de Janeiro, então na verdade a cidade do Rio de Janeiro ela chama-se de São Sebastião, próximo a cidade do Rio de Janeiro versus a Baía de Guanabara, então a preocupação desse Conselho Estadual de Cultura era de realizar todo ano encontros, seminários, congressos, pra colher o perfil cultural, informações, importantes, dos municípios que formavam o Estado do Rio. Hoje, foram emancipados alguns distritos, já temos muito mais municípios. E como eu tinha feito um trabalho de pesquisa em Iguaçu Velho, ou Iguaçu Velha, por isso é que existe a Nova Iguaçu, a primeira capital foi a beira do rio Iguaçu, e com a inauguração da Estrada de Ferro em 1858, todo mundo queria morar perto do trem, que ia ser o maior barato morar perto do trem, e conclusão: o trem deslocou o transporte de mercadoria dos antigos portos fluviais, dos rios da Baixada. Então, nós temos condições, eu falava isso lá pro Conselho de Cultura, nós temos condições de montar em todos os lugares muitos museus, porque o museu, ele não precisa ter só o leque da Baronesa, o pinico do Conde, o museu tem que ser uma coisa viva, você pode fazer um museu de geologia, de pedras local, de sementes, de fotografias antigas, de objetos antigos, você pode, por exemplo, ir no museu pegar um ferro de passar roupa á carvão e pra criar um a ligação pedagógica, você bota do lado do ferro à carvão um ferro moderno, pra criança fazer uma ligação de evolução e às vezes até de involução e eu sugeri que eles fizessem pesquisas arqueológicas nessas ruínas,nesses Portos antigos, até porque muitos rios tiveram seus leitos desviados e foram feitos canais em outras direções, mas muitas das vezes você encontra nos mapas antigos e informações de moradores antigos, “ não ali o rio passava ali,esse aí é um canal”. Quando você vai pra Tinguá, você passa em cima do rio, está lá a placa Rio Iguaçu, mas ali não é o leito original ali é o canal Iguaçu, feito na época do saneamento, o saneamento deixou aflorar. Então, como eu dizia anteriormente, em 1976 nós fizemos um encontro, e nesse encontro, vieram pessoas dos Conselhos de Cultura do Rio, e eu mostrei um trabalho que o Waldick Pereira tinha redigido, e tinha o titulo Cana, Café e Laranja, e existe também um organismo, eu não sei atualmente se está muito ativo, chamado Instituto Estadual do Livro, Inelivro. E eles gostaram do trabalho do Waldick, porque às vezes as pessoas não conseguem gravar uma música, ou editar um livro, porque o objetivo do Valdir não era ganhar dinheiro com esse livro, mas dá informações, e o Inelivro convocou o Waldick e o livro foi editado pelo Estado em convênio com Fundação Getulio Vargas, que foi quem bancou praticamente o livro, com uma certa porcentagem maior que a do Estado e o livro foi editado Cana, Café e Laranja falando, de certa, forma do aparecimento da indústria canavieira e da lavoura canavieira, da cafeicultura e da citricultura dos laranjais aqui na Baixada. Então às vezes, a gente, se acomoda pensando que vai receber um não, que não vai ser bem recebido, mas eu tenho a impresão de que hoje nós temos muito mais aberturas, pra divulgar os trabalhos da gente e receber ajuda, patrocínios até de ONG’s, etc, do que de 1954 até, vamos dizer, até 1990, porque de 54 até 1990, foi um período que cada um tinha que tocar o barco, por sua própria conta, e na verdade de uns tempos pra cá, e até um lado positivo da televisão nesse campo, de uns tempos pra cá muito mais pessoas e empresários esclarecidos tem se preocupado com essa questão cultural, principalmente, quando são pesquisas voltadas, por exemplo, pro meio- ambiente que tem sido uma moda, um modismo internacional, preservação de áreas florestais, de parques, de áreas de preservação ambiental, o turismo no Brasil parece que agora começa a ser olhado com mais carinho, porque qualquer região com certeza pode ter um atrativo, um potencial turístico, por que o turismo, ele é um leque muito amplo, a pessoa às vezes viaja pra ver um boi de Parentins (Parentins, né). Pra ver uma jangada no Nordeste, pra ver uma Cascata, pra ver como é que é a cheia do Pantanal. Itu, tem lugares maravilhosos, mas alguma pessoa criativa lá, começou a bolar aqueles objetos enormes em Itu. Então eu acho que qualquer Município, qualquer região tem alguma coisa à geografia, à geologia, à História que pode de repente virar uma atração turística, a pessoa as vezes viaja pra longe pra ver uma coisa, que a maioria das pessoas as vezes nem se interessa em observar, vocês observam mesmo que é uma coisa de certa forma, deve existir em outros lugares, mas o que aconteceu hoje no Rio de Janeiro, agora recentemente por ocasião da passagem de 2002 pra 2003 os hotéis ficaram super lotados e os hotéis ( eu tenho um amigo que trabalho num desses hotéis) disse que todo turista queria conhecer comidas típicas, queria conhecer os pontos turísticos, queria conhecer biblioteca, outros queriam ver museu, então eu tenho a impresão de que a cultura pode ter sido perfeitamente na atuação turística, porque o turista e o promotor de turismo sabendo que aquela peça, que aquele assunto, que aquele tema tenha atraído o visitante pra vir ali, se acomodar, pousar, passar uma noite, tem que se alimentar, o artesanato é comprado, então ligando o turismo, por exemplo, ao patrimônio histórico e artístico, patrimônio geral histórico tem feito sucesso em todas as partes do mundo por que não pode fazer num país que tem, embora com pouca idade de ocupação colonial, mas antes mesmo da invasão colonial você tem os nossos indígenas e eu dizia que pouco se sabe dos nossos índios, mas também pouco se sabe dos africanos que vieram pra essa região aqui e que trouxeram também outros termos, outros costumes, outros hábitos alimentares, etc. De modo que eu acho que a cultura, muito embora no passado não tenha recebido muito apoio do poder público, o poder público hoje até porque nós estamos na época da informática, da tecnologia avançada, a Internet está ai pra mostrar isso, e às vezes você acaba convencendo o vereador, o prefeito, o político, que ele vai fazer o nome dele, porque o político gosta do voto, ele vive da eleição o concurso pra ele passar pro serviço público é ganhar uma eleição. Então com o tempo o político vai se esclarecendo, e, às vezes, abraça uma idéia. Aqui, em Mesquita, por exemplo, foi desapropriada pelo estado, uma área, e o prefeito, que era muito amigo de Juscelino Kubitschek, resolveu chamar ao espaço onde vai ficar Prefeitura, a Câmara e o Fórum de Praça dos Três Poderes, mas como ele tinha amigos e parentes que gostam dessa parte cultural, ele vai incluir, vai ser uma Praça dos Cinco Poderes, porque além da Câmara, do Fórum e do prédio do Executivo vai ter uma Biblioteca e um teatro, então vai ser a Praça dos Cinco Poderes. Então eu acho o seguinte que, na verdade, a cultura ela não é uma coisa estanque, ele está associada a uma série de comportamentos, de hábitos, de conhecimentos, é assim como se fosse a Filosofia ao nascer, é o filosofo lá na Grécia antiga, ele cuidava de todos os assuntos ao mesmo tempo, a partir do momento em que cada assunto começou a ter um contingente de informações bastante fundamentado e significativo, a cada pedaço que foi saindo da Filosofia e formando as outras áreas, lá no fundo todas elas estão interligadas, tanto que pra você hoje fazer uma excursão com o objetivo de pesquisa, você deve levar um biólogo, se ele for, amplamente conhecedor da área, tudo bem, se não for, você tem que levar um zoólogo, levar um arqueólogo, um paleontólogo porque o solo brasileiro é muito antigo, você observa que volta e meia há denúncias, nos jornais e nos órgãos de comunicação, de que pessoas estão vendendo fósseis no nordeste, fósseis não sei de onde e de certa forma eu acho que a tradição oral, ela é tão abrangente que pode fornecer informações à todos os setores em todas às áreas e disciplinas, o pesquisador não pode abrir mão de qualquer informação, como se fosse um detetive saudável que quer, às vezes, com um fio de cabelo reconstrói toda uma característica, todo um conjunto de provas, etc.
C.E.- Ney, fala um pouquinho das tuas pesquisas na região de Tinguá e de Gericinó.
Ney - Olha, com relação ao maciço de Tinguá é composto de três elevações: a Serra do Santana que já fica voltado lá pro lado da Arcádia de Miguel Pereira, etc. Tanto que o rio que passa ali é o rio Santana, e o rio Santana junto com o Ribeirão das Lajes, formam o rio Guandu. E ali, o Tinguá é um reduto, que você encontra vestígios de quilombos, vestígios de aldeias indígenas até pela denominação de lá, tem lugar chamado quilombo, tem lugar chamado aldeia de pedra, tem outro lugar chamado aldeia velha, tem o Ribeirão lá, que eles chamam Ribeirão das Galinhas, mas na verdade, é Ribeirão dos Galinhas, os Galinhas eram um grupo de africanos que fizeram quilombo lá em cima, e tem a Serra dos Caboclos. Na Serra do Santana passava o caminho do ouro, que é o caminho novo das minas abertas do Garcia Paes. Na Serra do Tinguá, Tinguá quer dizer nariz empinado, passa o caminho do café, que é o caminho do comércio, que ligava o Iguaçu, o largo dos ferreiros até Paraíba do Sul e com uma estrada para os escoamentos do café, então ali passou a estrada dos caminhos do ouro e a estrada dos caminhos do café e a Serra Mais Baixa que é a Serra dos Caboclos que fica ali do lado do Rio D´ouro, Adrianóplois, São Pedro, Jaceruba, Santo Antônio foi uma área onde se refugiaram os índios sobreviventes do massacre de 1556/67, porque os nossos indígenas aqui se associaram aos franceses protestantes, tanto que Villegagnon, em 1555 se instalou na Baía de Guanabara, e esses nossos indígenas, os sapopenhos, paúnas, os sepetíuas, aguapeí, curissá, os tanguá, de Itaguaí, se associaram aos franceses protestantes, e caíram em desgraça perante os jesuítas, e o José de Anchieta foi o grande cérebro pra incentivar a matança em pequenos abates, depois, tanto que a Fundação da Cidade São Sebastião do Rio de Janeiro, ela se deu em conseqüência, justamente, pra servir de quartel-general pra expulsar os franceses da Guanabara e assassinar os nossos indígenas, aliás é até importante fazer aqui um parêntese porque quase tudo o que aconteceu em termos de ocupação efetiva no Brasil, foi pressionado pela França. Desde a ocupação do Brasil em capitanias, porque os franceses já conhecem o pau-brasil, a criação da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, porque os franceses estiveram no Rio de Janeiro, mais pra frente você observar que, pra dar um pulo, nós tivemos, por exemplo, ataque de Du Guay Trouin, Du Clerc, e cada vez que esse franceses invadiam um local, as modificações aumentavam, conseqüência, das invasões e expulsões, mais pra frente, vem a Família Real em função de Napoleão ter mandado invadir Portugal por causa do desrespeito ao Bloqueio Continental, porque quando parte pra cultura, veio a missão francesa, com arquitetos, com pintores, com origens, e de certa forma, então o próprio Jean Lery falava que se ver os nossos indígenas, era francês, então a França tem também uma ligação muito grande com a ocupação, aqui, da região e lá em cima do Tinguá, que a gente estava falando esse caminho do comércio que era o caminho do café, ele também já foi calçado por um tal de Conrado Jacob Niemayer. Esse Conrado Jacob Niemayer, deve ser de origem judaico alemã e ele foi quem pavimentou na terra de Tinguá o caminho do comércio, que é o caminho do café. E, um descendente dele que é o Conrado Jacob Niemayer Neto, nasceu no Tinguá e foi ele o responsável pela abertura daquela avenida Niemayer, que ele custeou aquela obra do próprio bolso e foi também foi esse Conrado que fez a igrejinha de São Conrado, um fundador do Clube de Engenharia, no Rio, é uma pessoa que nasceu no Tinguá, que lá na região tem um lugar chamado Conrado, em homenagem a ele. É perto de Paes Leme, caminho de Arcádia. Então, aquela Serra ali é um tesouro a ser pesquisado ainda, há mapas de 1846, localizando onde era o serrador, onde era a venda, pouso de tempero, onde plantava café, canavial, etc. Então é um local que está lá esperando pra ser lido. E do lado oposto é um maciço de Gericinó, o nome primitivo é maciço de Gericinó, ou Serra de Gericinó, e Gericinó, na linguagem indígena, é o nome que se dava a uma palmeira, essa palmeira produzia um conjunto de cacho de coco, e a palavra Gericinó, na linguagem tupi significa o cacho liso e fechado do catolé, como se fosse aquele coquinho batá que da no monte, com cacho de coco, e essa região que hoje agente chama muito de Serra de Madureira, Serra do Medanha, esse nome Medanha, Madureira, Gericinó, propriamente dito, também prevaleceram em função dos engenhos situados e plantados ao pé da Serra, usando à rota d’água com força hidráulica pra movimentar os mecanismos dos engenhos. Mas com a Serra que teve ocupação indígena dos jacutingas, do outro lado, outras aldeias com outros nomes, teve ocupação de quilombos, teve construções para implantação de engenho, de fazendas, plantou-se café nesse maciço, ali mesmo no Cabral, no Gericinó, na Serra da Cachoeira que deu origem à Mesquita, Serra de Madureira, que fica lá em frente a UNIG, à Serra de Maxambomba que deu origem a Nova Iguaçu, Serra de Cabuçu, Serra de Marapicu, do outro lado a de Medanha, o café veio logo pra qui quando chegou do Maranhão. Então você encontra muitos vestígios, há gente que diz até, que há cavernas com pintura nas paredes, a gente estava conversando a respeito disso. Então eu acho que são redutos que não estão ainda devidamente pesquisados principalmente pela arqueologia, ali mesmo, pegando de Mesquita pra Nova Iguaçu, tem a cratera do vulcão, que teria sido a sua última atividade vulcânica há 180 milhões de anos, então é uma Serra muito antiga, é uma Serra que precisa ser pesquisada até em termos geológico e até em termos paleantológicos, porque 180 milhões de anos, tem fósseis aí mais recentes. De modo que essas informações todas como é que eu as colhia, conversando com mateiros, aqui tinha um rapaz que era colecionador de orquídeas, seu José Farias, e era caçador também, mas essas pessoas todas. Você quer dar combate à caça, você conversa com o caçador pra fazer fuga e ele vira um colaborador. Então, eu acho que a conversa é uma atividade muito importante pra pesquisa e a conversa está na tradição oral. De modo que eu acho que esse trabalho do Centro, que vocês estão vislumbrando aí, é da maior importância é o Centro de Memória da Tradição Oral. É um movimento da melhor qualidade e eu só tenho a dizer, aquele cuidado que todo pesquisador tem de saber selecionar, porque às vezes, o sujeito é fanfarrão, quer contar o que pai contou, o que o avô contou e, às vezes, está desviando à verdade um pouco. Mas com certeza, a tradição oral, é muito mais pratica do que você consultar uma biblioteca, porque uma biblioteca não está ao acesso de todo mundo, Nova Iguaçu, por exemplo, não tem biblioteca pública, acho que, o prefeito lá agora que quer implantar uma decente, lá em São João, está sendo formado a biblioteca do IPHAB, biblioteca pública de São João, mas conversar é mais fácil do que você Até porque você, às vezes, não tem o dinheiro pra comprar um livro. E muito livro que tem a ver com a nossa memória cultural, seja no campo da História, da Geografia e do folclore, são livros caros, são livros até esgotados, que não se encontra, às vezes, nem nas bibliotecas. Então, você tem obrigatoriamente que recorrer a tradição oral. E o magistério usa muito isso.
C.E. - Ney, eu queria que você falasse de algumas figuras folclóricas da Baixada Fluminense e pode até começar pelo Tenório Cavalcanti. Quem foi Tenório Cavalcante?
Ney - Com relação a isso, eu gostaria de fazer um triângulo, porque em 1994 ou 93, não estou bem lembrado eu fui convidado pra fazer um enredo da Escola de samba Leão de Nova Iguaçu, e o enredo sugerido pela agremiação era: “O que é que a Baixada Tem”. E eu fui até convidado para desfilar em um dos carros representando Tenório Cavalcante. E eu acho que de todos os tempos até pela tradição oral, pelo mito que virou Tenório Cavalcante, realmente ficou sendo assim uma figura muito badalada, uma vez eu fui acampar em Ubatuba, e lá em Ubatuba tinha uma praia chamada Praia do Tenório, que era uma praia muito perigosa e eu quero até recordar que o Tenório Cavalcante que se chamava Natalício Tenório Cavalcante de Albuquerque, ele foi eleito vereador em 1935, à Câmara do então extenso município do Iguaçu que era maior que o Distrito Federal e ele teria que cumprir o mandato de 1936 à 1939.
Mas em 1937, ocorreu o advento do Estado Novo, e as Câmaras foram fechadas. Mas, ainda no Estado Novo, que vai de 37 à 45, o Amaral Peixoto que era o interventor do Estado do Rio que era genro do Getúlio, decretou a emancipação do Distrito que na antiguidade da nossa História chamava de Meriti, em 1931 passou a se chamar Distrito de Duque de Caxias, então em 43, repito, Caxias foi emancipada, e quando Caxias se emancipou levou São João de Meriti e Imbariê chegando inclusive no lugar onde nasceu o patrono do Exército de Duque de Caxias, a respeito até dessa questão do Tenório, que diziam que Tenório era um sujeito intransigente, muito até violento dependendo da situação, eu me lembro que na Rádio Nacional tinha um programa chamado PRK 30 e que era dois humoristas, chamava rádio humoristas, que era o Lauro Borges e Cássio Barbosa, e eles começaram no início, a falar daquele filme do Orson Wells que era a invasão da terra por seres de outro planeta. Então eles criaram lá um esquete que era o seguinte: aí vinha um e dizia assim: e Atenção! Atenção! Mais uma vez Atenção! Os marcianos estão invadindo a Inglaterra (mais ou menos assim). Aí o outro dizia assim com voz de português: Coitados, dos ingleses, aí aquela programação normal. Daqui a pouca um vinha e falava de novo: e Atenção! Atenção! Mais uma vez Atenção! Os marcianos estão invadindo os Estados Unidos, aí o outro comentava assim: coitados, dos norte-americanos e daqui a pouco, os marcianos estavam invadindo não sei onde, coitado desse pessoal e coitado não sei de quem e antes eles tinham feito um comentário, à respeito, de Tenório, em Caxias. Aí daqui a pouco, o repórter lá, o humorista fala assim: Atenção! Atenção! Mais uma vez atenção! Muita atenção! Os marcianos estão invadindo Caxias, aí o outro falou assim: Coitado dos marcianos!!!!!. Por causa, talvez, da fama que Caxias conseguiu com o Tenório. E o Tenório, então, foi vereador de Nova Iguaçu e em 43, quando Caxias foi emancipada, no tempo do Estado Novo, aí ele foi se radicar e se radicalizar lá em Caxias, e parece, até que ele foi lá vereador prefeito (aí tem que ver isso depois). Mas com relação também ao fato de Caxias, eu criei uma historinha, que eu dizia que eu ia processar meu pai, porque meu pai me falou uma vez que fez questão que eu nascesse em Nova Iguaçu. O município de Nova Iguaçu é muito importante. Mas era em 1940, se eu nascesse depois de 43, quando Caxias emancipou, eu acho que ia preferir ter nascido em Caxias. E eu costumo comentar da seguinte maneira: Que Caxias está muito, assim muito na frente de Nova Iguaçu, porque parece que Nova Iguaçu ficou um pouco estagnado. Então vejamos, nenhum deputado federal de Nova Iguaçu entrou no Plenário da Câmara Federal de chapéu preto, capa preta com forro vermelho com a metralhadora debaixo da capa e o Tenório entrou, pra começar antes mesmo disso, Caxias já tem o nome do patrono do Exército Brasileiro, depois disso ainda vem à questão desse negócio de traficância, de tráfico e tal, porque Nova Iguaçu nunca deu nenhum traficante tão famoso igual Fernandinho Beira-Mar. E por fim, veio, esse prefeito (acho que ainda é o prefeito) de Caxias que é o Zito, porque nenhum prefeito de Nova Iguaçu conseguiu eleger a prefeita de Magé e o prefeito de Belford Roxo, nesse aspecto, como Nilópolis está ganhando há muito tempo, por causa da Beija-Flor. São João também tem a Unidos da Ponte, e Nova Iguaçu até hoje não tem, nem se quer em termos populares uma opção carnavalesca como uma agremiação que esteja no Grupo ápice do Desfile das Escolas de Samba, parece esses municípios que se emanciparam de Nova Iguaçu, parece que estão buscando uma caminhada mais acelerada do que o próprio município de Nova Iguaçu. Mas o Tenório foi, realmente eu acho que é ainda, um nome que se fala muito na Baixada.
C.E - Você chegou a conhecê-lo pessoalmente?
Ney - Conheci pessoalmente, quando o Mário Marques pediu o calçamento da rua do Encanamento, que hoje parece que tem outro nome, e eu já conhecia o Tenório dos comícios que ele vinha fazer em Nova Iguaçu pra deputado federal e até pra Governador, e o Rui Queiroz que pediu que eu fosse convidar o Tenório pra vim participar da solenidade da inauguração da rua e ele veio, falou, usou da palavra. E eu até tenho uma foto do lado do Tenório, e ele, olha, era muito bom de papo, muito conversador, sujeito que tinha assim muita história pra contar do Nordeste, do tempo em que ele foi vereador, da política de Iguaçu e havia um ditado antigo, no início do século que ele comentava muito, que é: “Deus nos livre das febres de Macacu e da política de Iguaçu!”
O Tenório, realmente, é uma figura que já foram escritos alguns livros à respeito da vida dele, e quando o Leão descreveu “O que é que a Baixada Tem”, o Tenório de certa forma foi homenageado. É uma figura realmente que, já tem, já tem filme a respeito dele, mas eu acho que não foi ainda bem estudado não foi feito um trabalho mais elaborado a respeito dele.
C.E – Ney, muito obrigado pela entrevista.O Centro de Memória Oral da Baixada Fluminense e toda a população da região agradecem por sua dedicação ao estudo da região.
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