DESRESPEITO À MEMÓRIA SUBURBANA





Matéria assinada pelo jornalista Luiz Ernesto Magalhães - O GLOBO de 03/08/2010


Prezados amigos.

Lamentavelmente fomos pegos de surpresa com a notícia acima dando conta do DESTOMBAMENTO, DESAPROPRIAÇÃO e DEMOLIÇÃO de antigos imóveis localizados no Largo do Campinho, bairro de mesmo nome, Subúrbio da Cidade do Rio de Janeiro. Ainda não sabemos se os imóveis em discussão já foram destombados pelo senhor Prefeito. Apesar deste ter o poder de destombar qualquer imóvel em nome do progresso, tem necessariamente que encaminhar suas intenções ao Conselho Municipal de Proteção do Patrimônio Cultural, como determina a legislação de patrimônio cultural. Se, por outro lado, Eduardo Paes - o prefeito -, o fizer à revelia, estará cometendo um desrespeito ao CMPPC e à legislação específica, o que configura ato inconstitucional. É o que nós entendemos no momento.

O Conjunto Arquitetônico do Largo do Campinho, datado de 1914, segundo o Guia do Patrimônio Cultural Carioca: Bens Tombados 2008, "...em estilo eclético, teve seu esplendor no início do século passado, evidenciado pelo poder comercial local, principalmente pelo desenvolvimento do Mercado do Campinho, que nesses primeiros anos constava como líder na distribuição e venda da maioria dos produtos agropecuários da cidade. A imponência dos prédios representa simbolicamente uma época de grande prosperidade"(p.180). O referido conjunto, situado entre o números 3 e 21 do Largo do Campinho, foi tombado pelo Poder Público Municipal através do Decreto nº 24.560, de 25/8/2004, fruto da luta e iniciativa do abnegado pesquisador de Madureira CARLOS ALBERTO MEDA, que havia recomendado por escrito ao então prefeito Cesar Maia a proteção àquele conjunto.

Outro bem cultural protegido pelo mesmo decreto municipal e também ameaçado de DESTOMBAMENTO, DESAPROPRIAÇÃO e DEMOLIÇÃO é a antiga ESTALAGEM DO CAMPINHO, localizada no nº 452 do Largo do Campinho. Apesar de descaracterizada, remonta ao período colonial. Ali teria se hospedado por diversas vezes Joaquim José da Silva Xavier - o Tiradentes durante suas vindas ao Rio de Janeiro.

Em completa situação de abandono e localizado nas proximidades do Largo do Campinho, na avenida Ernani Cardoso, está o imóvel denominado "ANTIGO FORTE NOSSA SENHORA DA GLÓRIA DO CAMPINHO", ocupado até bem pouco tempo por uma unidade militar do Exército Brasileiro. Data o mesmo do século XIX (1822 ou 1823), tendo a possibilidade de já ter funcionado como "fortim improvisado"  no século XVIII. Este imóvel, apesar da sua importância histórica - no final do século XIX funcionou no local o Imperial Laboratório Pirotécnico e, já na República Velha, o Laboratório Pirotécnico do Exército -, não foi tombado por nenhum órgão público, apesar dos insistentes pedidos do GRUPO DE PESQUISA DO SUBÚRBIO CARIOCA.

Em virtude das ameaças, desrespeito e desprezo ao patrimônio cultural e à memória dos subúrbios do Rio de Janeiro (o tratamento é diferenciado em relação ao patrimônio cultural da Zona Sul e do Centro do Rio!), conclamo a todos numa verdadeira união e no apoio para impedir que o mesmo Poder Público Municipal que tombou o Conjunto Arquitetônico do Largo do Campinho o destombe sob o pretexto de que no local será construído o tal  "TRANSCARIOCA" (corredores excluisivos ligando a Barra da Tijca ao Aeroporto Internacional do Galeão), um dos primeiros passos visando preparar a cidade para a Copa do Mundo de 2014. Houve alguma Audiêndia Pública para tratar do assunto?  O Conselho Municipal de Proteção do Patrimônio Cultural foi ouvido como determina a legislação de patrimônio específica? As comunidades afetadas pelo projeto foi consultada a respeito? Em se tratando de obras de grande porte, serão comunicados e consultados o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e Instituto de Arqueologia Brasileira (IAB/CAPÃO DO BISPO), visto que aquela área, por sua proximidade ao antigo Forte do Campinho e à Igreja de N. S. da Conceição do Campinho (também tombada pela municipalidade), pode apresentar vestígios arqueológicos (artefatos e estruturas), além do fato de que a Avenida Ernani Cardoso e a Estrada Intendente Magalhães representam parte do trajeto da outrora Estrada Real de Santa Cruz?

Comunicaremos o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro e a Imprensa escrita e televisada a respeito dos fatos aqui evidenciados.

Cordialmente,

Paulo CLARINDO
AMIGOS DO PATRIMÔNIO CULTURAL
GRUPO DE PESQUISA DO SUBÚRBIO CARIOCA
(21) 9765-6038 ou 2261-0012 ou 3880-4257

11 comentários:

Unknown disse...

é absurdamente impressionante como a palavrinha destombar, ou tombar, no sentido de colocar abaixo, sai facilmente da boca do governo.
Nao moro no Brasil e gostaria de participar da açao de protesto, seria possìvel elaborar uma lista de emails para mandarmos mensagens pedindo que nao se faça mais esse crime contra a memória histórica e coletiva?

AMIGOS DO PATRIMÔNIO CULTURAL disse...

Olá, Ranis! Muito obrigado por acessar nosso blog e por compartilhar conosco o interesse pela História e pelo Patrimônio Cultural.

Quanto ao seu pedido da lista de endereços eletrônicos (e-mai's), peço a gentileza de nos informar se os mesmos devem ser governamentais ou particulares e de instituições culturais diversas. Por favor, entre em contato pelo endereço eletrônico abaixo:

amigosdopatrimonio@gmail.com

Cordialmente,

Prof. Paulo CLARIDO
AMIGOS DO PATRIMÔNIO CULTURAL
(21) 2261-0012 ou 9765-6038 ou 2656-9810
amigosdopatrimonio@gmail.com
www.amigosdopatrimoniocultural.blogspot.com

Unknown disse...

Tomei conhecimento hj deste site que passarei a frequentar.Os fatos relatados sobre o eventual destombamento do conjunto arquitetônico do Largo do Campinho são muito graves pois enfraquecem o instituto do tombamento e abrenm um perigoso precedente. Não é possível que o Prefeito possa fazer isso desta maneira mesmo ouvindo o CMPC, que atualmente é presidido pelo Subsecretario de Patrimonio Cultural portanto por alguém que possui cargo na Prefeitura. Será que terá independência para opinar? Creio que não.Acho importantíssimo ir ao Ministéio Público e também à Câmara de Vereadores(há alguns vereadores idealistas com quem se pode contar).É fundamental tb que se recorra à imprensa, cobrando inclusive a manifestação de jornalistas influentes que fazem o maior alarido em relação a demolições na Zona Sul de imóveis que nem tombados são.Enfim, há um longo caminho pela frente mas creio que é uma luta importante.Parabéns a todos, Luiz (luizefilho@ig.com.br).

AMIGOS DO PATRIMÔNIO CULTURAL disse...

Prezado Luiz.

Ficamos muitíssimo felizes e gratos pelo seu recado e interesse pela questão envolvendo a ameaça que paira sobre o conjunto arquitetônico do Largo do Campinho. Agradecemos pelos elogios ao nosso blog. Visite-o à vontade e, se quiser, pode recomendá-lo a outros internautas que se interessem pelo assunto. Vamos estudar suas sugestões. A propósito, como tomou conhecimento do nosso blog? De onde voçê navega?
Nossos contatos estão abaixo.

Cordiais saudações,

Paulo CLARINDO
AMIGOS DO PATRIMÔNIO CULTURAL
amigosdopatrimonio@gmail.com
(21) 9765-6038 ou 2261-0012 ou 3880-4257

esteblogminharua disse...

Oi, pessoal. Realmente é triste a cultura de um povo que perde sua memória, ou melhor (pior!?), que VENDE sua memória. Um povo que não tem respeito por seu passado dificilmente pode ser feliz no futuro, ou mesmo construir um futuro decente.
Mas é função da escola e dos pais ensinar esse respeito aos filhos. Prendi com o meu saudoso pai, Waldick Pereira, a amar e buscar preservar nossas manifestações culturais, em todos os níveis.
Obrigado pela visita e comentário no blog.
Contem comigo nessa cruzada: Meu e-mail é franzkre@gmail.com

AMIGOS DO PATRIMÔNIO CULTURAL disse...

Meu caro amigo Franz.

Ficamos muito agradecidos pelas suas encorajadoras e sábias palavras. Você segue realmente os passos dos seu pai, uma grande figura humana que infelizmente não tive a oportunidade de conhecê-lo pessoalmente.

Um forte abraço,

CLARINDO

Charlotte - APD Cultures et Territoire disse...

Tomei conhecimento dessa notícia et do site "Amigos do Patrimônio Cultural" no início de agosto em Orkut.

Sou consultoria em valorização patrimônial e fazo tambem um doutorado em História na Sorbonne (Paris).

Em Orkut proponho alertar o publico internacional. Algum tem fotografias dos imoveis ? Poderia ser interessante visualizar o lugar via Google Earth e criar um conteúdo sobre o Forte.

E importante para a cidade carioca preservar o seu património histórico !!

AMIGOS DO PATRIMÔNIO CULTURAL disse...

Prezado amigo (a).

Agradecemos pelo interesse e preocupação com o assunto. Por favor, informe-nos o seu enderço eletrônico para que possamos atender ao seu pedido. Estamos às ordens.

Abraços,

Professor Paulo CLARINDO
AMIGOS DO PATRIMÔNIO CULTURAL
amigosdopatrimonio@gmail.com

Charlotte disse...

Meu email é : mcbelle@aproposdeveloppement.fr
Abraços
Charlotte

AMIGOS DO PATRIMÔNIO CULTURAL disse...

Obrigado, Charlotte. Vou te enviar umas fotos por e-mail.

Abraços,

CLARINDO
Professor Paulo CLARINDO
AMIGOS DO PATRIMÔNIO CULTURAL
amigosdopatrimonio@gmail.com
(21) 2261-0012 ou 3880-4257 ou 9765-6038

Charlotte - APD Cultures et Territoire disse...

Caso você tenha fotografias (atual e/o históricas) dos predios ameaçados no Largo do Campinho ainda posso inserir imagens no Google Earth para difusar a informação em mídias franceses. Tem uma petição sobre o assunto ?