De patrimônio a estacionamento


Tradicional Centro Hípico do Rio de Janeiro corre o risco de ser transformado em estacionamento do Maracanã, mas prefeitura prevê o projeto apenas para 2016 enquanto historiadores e frequentadores lutam para tombar o espaço


Felipe Sáles

2/3/2012

Fachada do Centro Hípico. Foto Google Stret View
 
Diante da polêmica, a transformação do Centro Hípico do Rio de Janeiro em estacionamento do Maracanã só deverá vingar, inusitadamente, após a Copa do Mundo de 2014. Pelo menos é o que diz, hoje, a Prefeitura do Rio. Quando foi anunciado no primeiro semestre do ano passado, o projeto causou revolta entre historiadores e praticantes do esporte, que organizaram um movimento pedindo o tombamento do local. Em agosto, o vereador Carlo Caiado (DEM) deu entrada num projeto de lei para tombar o espaço, mas, desde então, a ementa sequer foi analisada pelos colegas – que majoritariamente apoiam a prefeitura. Diante disso, o caso foi entregue ao Ministério Público do Estado.

 
A prática de equitação acadêmica foi introduzida no país a partir de 1863 pelo brasileiro Luiz Jácome de Abreu e Souza, que após estudar na Inglaterra tornou-se um respeitado especialista em hipologia, criação e corrida de cavalos. A simpatia da Corte pela pelo esporte teve influência da Princesa Leopoldina, que praticava cavalgadas pela Quinta da Boa Vista junto dos aristocratas do Império.

Em 1911, no mesmo local onde funcionava as Cavalariças Imperiais, surgiu o Club Sportivo de Equitação – um dos primeiros do Brasil –, que deu origem à Sociedade Hípica Brasileira. Desde então, funciona como um ponto de encontro de gerações de militares, possibilitando a prática dos esportes equestres. Hoje, a situação no local é crítica. No carnaval, um duto de água se rompeu e o espaço ficou mais de uma semana submerso – desde as cocheiras até o campo.

Centro inundado no carnaval por problema em cano. Foto do leitor


Fator segurança pública

Além do valor histórico, o vereador Carlo Caiado ressalta também o aspecto de segurança pública para evitar a transformação do local em estacionamento. A polícia montada é uma exigência da Fifa para o evento – por permitir melhor visualização da multidão. Mas todos os cavalos ficam em Campo Grande, a cerca de 60 quilômetros de distância do estádio, enquanto o Centro Hípico fica ao lado.

“Existe uma pista um campo onde os policiais poderiam soltar os cavalos e se concentrarem próximos ao epicentro da festa. Não faz sentido, numa cidade que vai sediar ainda os Jogos Olímpicos, destruir um centro esportivo em privilégio de outro. Já encaminhamos o problema para o Ministério Público, para a Fifa e para o Iphan”, conta.

O projeto que tomba o local ainda não foi analisado por nenhuma das cinco comissões que deve passar antes de ir a votação. A Secretaria Municipal de Obras, em nota, disse que, embora as obras do entorno do Maracanã já tenham sido iniciadas, a fase seguinte – que abrange o Centro Hípico – “está prevista apenas para o futuro. A previsão é que seja realizada somente em 2016”.

A prefeitura, porém, já acertou com o governo federal a compra da área, que é do Exército. A ideia é que sejam demolidas as construções da Rua Bartolomeu de Gusmão para servirem de estacionamento e instalações de apoio aos eventos no estádio. Após as Olimpíadas, o lugar seria usado num plano de ampliar a área de circulação do público da Quinta da Boia Vista. O plano consta entre os projetos apresentados ao Comitê Olímpico Internacional. O terreno do Centro Hípico seria interligado ao Maracanã por duas praças elevadas, que atravessariam a linha férrea.

www.revistadehistoria.com.br/secao/reportagem/de-patrimonio-a-estacionamento

Nenhum comentário: